|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GRAVIDEZ SEM FUTURO
Pouca coisa há de mais delicado
que formular políticas públicas para
a saúde reprodutiva, sempre reduto
da privacidade e da escolha individual. Tal dificuldade, porém, não
justifica a inação, como têm mostrado as campanhas contra a Aids: resultados palpáveis só começaram a
ser obtidos quando o uso de preservativos foi abordado abertamente. É
preciso agora empregar a mesma
franqueza e determinação no enfrentamento da gravidez adolescente.
Como mostrou reportagem publicada por esta Folha, tal flagelo parece
estar se agravando no Brasil. Embora
a fecundidade geral apresente queda
nos últimos anos, aumenta o número de adolescentes que se tornam
mães em hospitais do Sistema Único
de Saúde (SUS). Em 1994, 23,7% dos
partos envolviam meninas -mulheres?- de 10 a 19 anos. Três anos depois, já eram 26,5%.
É evidente que a maioria desses casos está a anos-luz do que se poderia
chamar de maternidade responsável.
Seja para a mãe imatura, seja para o
filho desamparado, é difícil imaginar
uma perspectiva animadora para a vida dessas crianças e jovens.
Somente uma política de orientação
e valorização específica para a faixa
etária pode estancar tamanho desperdício de juventude. Urge criar iniciativas que dêem às moças esclarecimentos e acesso a anticoncepcionais, sem dúvida imprescindíveis.
No que toca a métodos de contracepção, seria o caso de privilegiar os
preservativos, por sua eficácia contra
o vírus HIV, que causa a Aids. Ainda
que o uso da camisinha venha crescendo, há razões para preocupação.
Como revelou esta Folha, com base
em pesquisa realizada com cerca de
10 mil rapazes alistados para o serviço militar em 1997, a camisinha é
bem menos utilizada justamente por
aqueles que mantêm relações sexuais mais frequentes.
Informação e preservativos. Não é
um preço tão alto a pagar para dar
concretamente aos jovens o direito
de não contrair Aids e de não enfrentar uma gravidez prematura.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|