São Paulo, segunda, 7 de setembro de 1998

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GRAVIDEZ SEM FUTURO

Pouca coisa há de mais delicado que formular políticas públicas para a saúde reprodutiva, sempre reduto da privacidade e da escolha individual. Tal dificuldade, porém, não justifica a inação, como têm mostrado as campanhas contra a Aids: resultados palpáveis só começaram a ser obtidos quando o uso de preservativos foi abordado abertamente. É preciso agora empregar a mesma franqueza e determinação no enfrentamento da gravidez adolescente.
Como mostrou reportagem publicada por esta Folha, tal flagelo parece estar se agravando no Brasil. Embora a fecundidade geral apresente queda nos últimos anos, aumenta o número de adolescentes que se tornam mães em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 1994, 23,7% dos partos envolviam meninas -mulheres?- de 10 a 19 anos. Três anos depois, já eram 26,5%.
É evidente que a maioria desses casos está a anos-luz do que se poderia chamar de maternidade responsável. Seja para a mãe imatura, seja para o filho desamparado, é difícil imaginar uma perspectiva animadora para a vida dessas crianças e jovens.
Somente uma política de orientação e valorização específica para a faixa etária pode estancar tamanho desperdício de juventude. Urge criar iniciativas que dêem às moças esclarecimentos e acesso a anticoncepcionais, sem dúvida imprescindíveis.
No que toca a métodos de contracepção, seria o caso de privilegiar os preservativos, por sua eficácia contra o vírus HIV, que causa a Aids. Ainda que o uso da camisinha venha crescendo, há razões para preocupação. Como revelou esta Folha, com base em pesquisa realizada com cerca de 10 mil rapazes alistados para o serviço militar em 1997, a camisinha é bem menos utilizada justamente por aqueles que mantêm relações sexuais mais frequentes.
Informação e preservativos. Não é um preço tão alto a pagar para dar concretamente aos jovens o direito de não contrair Aids e de não enfrentar uma gravidez prematura.



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