São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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Editoriais

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Um degrau abaixo

Com Europa no centro da tempestade financeira, governo Lula toma medida sensata para assegurar exportações

CRISES SISTÊMICAS têm a capacidade intrínseca de alastrar-se e agravar-se progressivamente. As fortes quedas em cadeia nos mercados acionários desta segunda-feira marcaram o momento em que a desconfiança sobre toda a rede financeira européia atingiu seu clímax. Uma segunda onda de choque foi desferida contra países que, como Rússia e Brasil, são grandes exportadores de produtos básicos, as chamadas commodities.
A incapacidade das autoridades européias de articular um plano conjunto para prevenir corridas bancárias no continente cobrou seu preço. Após uma reunião de cúpula improdutiva, no sábado em Paris, o governo alemão tomou uma medida unilateral e garantiu a totalidade dos depósitos bancários no país.
Foi a senha que fez disparar a desconfiança generalizada sobre nações européias que não propiciam a mesma segurança. Cidadãos dirigindo-se a caixas eletrônicos para sacar recursos produziram apenas as cenas mais visíveis e dramáticas de uma debandada para a qual já se preparavam grandes gestores de recursos que operam no continente.
O pânico na Europa também estimulou resgate maciço de fundos especulativos que aplicam em papéis e nações relacionados a commodities metálicas, energéticas e agrícolas. A liquidação atingiu o Brasil, onde a Bovespa chegou a cair 15% e teve o pregão suspenso duas vezes por excesso de perdas, que fecharam o dia em 5,4%. Na Rússia, a Bolsa despencou 19,4%, no dia em que o petróleo caiu para sua menor cotação desde fevereiro.
Enquanto isso, nos EUA, o Fed (banco central) anunciou um novo aumento, para US$ 900 bilhões, nas linhas de recursos emergenciais oferecidas aos bancos, em meio à paralisia generalizada dos empréstimos interbancários. O governo americano também estuda a possibilidade de atuar diretamente no mercado de notas promissórias, a fim de evitar a asfixia nos empréstimos ao setor produtivo.
No Brasil, o governo Lula finalmente ofereceu uma resposta de maior qualidade para o esgarçamento do crédito a exportadores. Vai deslocar uma parte das reservas internacionais do Banco Central para essa finalidade, o que trará benefícios ao país, ao evitar o estrangulamento da entrada de dólares oriundos das exportações, numa conjuntura em que esse fluxo será crucial.
Outra medida que as autoridades brasileiras deveriam considerar é a participação do país numa cada vez mais provável diminuição, coordenada entre os principais BCs do planeta, das taxas de juros de curto prazo.


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