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O papel do presidente
Críticas ou elogios à conduta de Lula na campanha não deveriam se pautar por conveniências eleitorais, mas por princípios e valores
Consta que a atitude do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o primeiro turno da campanha eleitoral foi alvo de críticas
por parte de aliados. Após reunião
anteontem no Palácio da Alvorada, na qual Lula e ministros encontraram-se com governadores e
senadores eleitos pela aliança governista, alguns deles disseram
ter recomendado participação
menos agressiva do presidente no
segundo turno que se inicia.
Censuraram, entre outras coisas, os ataques dirigidos à imprensa e o tom exaltado das intervenções do presidente nos comícios
de que participou país afora.
O senador eleito Roberto Requião (PMDB), ex-governador do
Paraná, resumiu assim as preocupações: "Lembro de uma eleição
em que eu estava xingando todo
mundo. O senhor ligou para que
eu fosse mais como o senhor: "Lulinha paz e amor". Agora eu vim
aqui dizer isso para o senhor".
Ninguém deve ter ilusões em relação à motivação dessa romaria
de apelos ao bom-senso. Os aliados que recomendam menos fúria
a Lula são os mesmos que estariam exaltando a sua verve caso as
urnas não tivessem frustrado o
triunfalismo governista.
A crítica (ou o elogio) à conduta
do presidente não deveria se pautar pelo oportunismo ou por conveniências meramente eleitorais,
mas por princípios e valores.
É óbvio que Lula tem todo o direito de defender seu governo e escolher um lado na disputa da sua
sucessão. É óbvio que pode manifestar preferências partidárias e
participar da campanha eleitoral,
como qualquer cidadão.
Mas o presidente da República
não é um cidadão qualquer. É o
chefe do Estado. E Lula não soube
se comportar como tal em diversos momentos da campanha.
Pelo contrário, fez questão de
misturar a figura do presidente
com o líder do partido e quis, desde o início, exercer uma tutela
quase incontrastável, não apenas
sobre a candidata que inventou
para apoiar, mas sobre o próprio
processo eleitoral.
No início de abril, flagrado em
campanha irregular antes do prazo permitido por lei, Lula tratou
com desdém a Justiça Eleitoral.
Mais adiante, entre tantos arroubos inadequados, disse que iria
"extirpar" do país um dos partidos
da oposição.
No 7 de setembro, Dia da Independência, foi à TV não para falar
ao país na condição de presidente,
mas apoiar, no horário eleitoral do
PT, a sua candidata. Seria difícil
exemplo mais simbólico.
Está certa a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau,
quando pede que o presidente se
comporte de maneira "mais republicana e mais democrática" e reprova a obsessão de "fazer a sua
sucessora a qualquer custo".
Ao levar o pleito presidencial para o segundo turno, o eleitorado deu, no último domingo, uma prova de que não está disposto a aceitar a tutela do governo.
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