São Paulo, segunda-feira, 07 de novembro de 2005

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JOÃO SAYAD

Como fazer amigos e influenciar pessoas

Sorria sempre . Ouça muito e fale pouco. Nunca pergunte ao presidente da empresa familiar como vai o irmão. São rivais. Com o político petista, não fale nunca dos companheiros famosos. Com o líder tucano, não pergunte por outras lideranças tucanas. No PT, não fale sobre o PSDB. No PSDB, não mencione o PT.
Somos prisioneiros da inveja, que será tanto maior quanto mais perto estiver o objeto invejado. PT e PSDB podem negociar acordos com a extrema direita, com o fisiologismo ou com qualquer partido distante no espectro político ou sem linha programática. Mas os dois partidos-irmãos, que defendem e adotam políticas semelhantes, são irreconciliáveis.
Sentimos inveja das pessoas que admiramos. Édipo é apaixonado pela mãe. A mulher mais linda do mundo tem que ser a mulher que o pai, homem forte e admirado, escolheu.
Civilização e ordem dependem da possibilidade de desviar rivalidade e inveja para um objeto distante -uma ameaça externa, a sobrevivência em ambiente inóspito ou um projeto comum.
Nas sociedades primitivas, a violência era controlada pelos ritos de sacrifício aos deuses, para quem se oferecia a morte de animais, escravos, prisioneiros de guerra ou até princesas. Jesus revela esse segredo antropológico ao se apresentar como Cordeiro de Deus, a vítima sacrificial que retira a violência do mundo.
Na falta de desafio comum ou de inimigo externo, a inveja contamina toda a sociedade, que acaba tomada pela violência e pelo caos. Os militares argentinos pensavam nisso ao invadir as ilhas Malvinas.
Para a antropologia, escândalo é o mecanismo que transforma a inveja individual em violência coletiva e o rival individual em mártir. A palavra aparece na Bíblia grega ("scandaloun"). Foi traduzida como Satã, o anjo do mau, nas versões vernaculares.
Política é o lugar do escândalo. Um evento freqüente e inevitável. Cada presidente americano tem um escândalo: Nixon e Watergate; George Bush e o Irãgate; Clinton e Mônica Lewinski; George W. Bush, o filho, e o vazamento proposital do nome de uma agente da CIA por um assessor. Na Inglaterra, é a vida amorosa dos ministros e da família real: o caso Profumo e Christine Keeler, o adultério do príncipe Charles e a morte da princesa Diana. No mundo anglo-saxão, escândalos misturam sexo, espionagem e corrupção.
Na América Latina, sexo não é escândalo: só corrupção é. O escândalo é proporcional ao sucesso inicial do governante. Campeões das reformas, Fujimori, no Peru, Menem, na Argentina e Salinas, no México, saíram às pressas, fugindo de escândalos de corrupção.
O Brasil não é original. Segue o padrão latino. O país precisa de políticos experientes e cautelosos para que as ofensas pessoais não impeçam o convívio civilizado neste final de governo e em todos os próximos governos. Os escândalos serão mais freqüentes se não voltarmos a crescer ou se não chegarmos a acordo sobre algum destino nacional que entusiasme.
Se você pensa em se candidatar, prepare-se.


João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.

jsayad@attglobal.net


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