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JOÃO SAYAD
Como fazer amigos e influenciar pessoas
Sorria sempre . Ouça muito e fale
pouco. Nunca pergunte ao presidente da empresa familiar como vai o
irmão. São rivais. Com o político petista, não fale nunca dos companheiros famosos. Com o líder tucano, não
pergunte por outras lideranças tucanas. No PT, não fale sobre o PSDB. No
PSDB, não mencione o PT.
Somos prisioneiros da inveja, que
será tanto maior quanto mais perto
estiver o objeto invejado. PT e PSDB
podem negociar acordos com a extrema direita, com o fisiologismo ou com
qualquer partido distante no espectro
político ou sem linha programática.
Mas os dois partidos-irmãos, que defendem e adotam políticas semelhantes, são irreconciliáveis.
Sentimos inveja das pessoas que admiramos. Édipo é apaixonado pela
mãe. A mulher mais linda do mundo
tem que ser a mulher que o pai, homem forte e admirado, escolheu.
Civilização e ordem dependem da
possibilidade de desviar rivalidade e
inveja para um objeto distante -uma
ameaça externa, a sobrevivência em
ambiente inóspito ou um projeto comum.
Nas sociedades primitivas, a violência era controlada pelos ritos de sacrifício aos deuses, para quem se oferecia
a morte de animais, escravos, prisioneiros de guerra ou até princesas. Jesus revela esse segredo antropológico
ao se apresentar como Cordeiro de
Deus, a vítima sacrificial que retira a
violência do mundo.
Na falta de desafio comum ou de inimigo externo, a inveja contamina toda
a sociedade, que acaba tomada pela
violência e pelo caos. Os militares argentinos pensavam nisso ao invadir as
ilhas Malvinas.
Para a antropologia, escândalo é o
mecanismo que transforma a inveja
individual em violência coletiva e o rival individual em mártir. A palavra
aparece na Bíblia grega ("scandaloun"). Foi traduzida como Satã, o anjo do mau, nas versões vernaculares.
Política é o lugar do escândalo. Um
evento freqüente e inevitável. Cada
presidente americano tem um escândalo: Nixon e Watergate; George Bush
e o Irãgate; Clinton e Mônica Lewinski; George W. Bush, o filho, e o vazamento proposital do nome de uma
agente da CIA por um assessor. Na Inglaterra, é a vida amorosa dos ministros e da família real: o caso Profumo e
Christine Keeler, o adultério do príncipe Charles e a morte da princesa
Diana. No mundo anglo-saxão, escândalos misturam sexo, espionagem e
corrupção.
Na América Latina, sexo não é escândalo: só corrupção é. O escândalo é
proporcional ao sucesso inicial do governante. Campeões das reformas,
Fujimori, no Peru, Menem, na Argentina e Salinas, no México, saíram às
pressas, fugindo de escândalos de corrupção.
O Brasil não é original. Segue o padrão latino. O país precisa de políticos
experientes e cautelosos para que as
ofensas pessoais não impeçam o convívio civilizado neste final de governo
e em todos os próximos governos. Os
escândalos serão mais freqüentes se
não voltarmos a crescer ou se não chegarmos a acordo sobre algum destino
nacional que entusiasme.
Se você pensa em se candidatar, prepare-se.
João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.
jsayad@attglobal.net
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