São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Suficientemente inteligentes

BRASÍLIA - De Lula, dando aula ao presidente eleito dos EUA: "Espero que Obama não vá gastar um ano sem resolver imediatamente a crise. Agora, a crise pode ser debitada ao atual governo, mas, um ano após tomar posse, é dele também".
Lula não tem dúvida de que Obama é "suficientemente inteligente" para entender o recado/lição.
Foi quase um ato falho, pois Lula tem quase a mesma pressa e a enorme necessidade de Obama em resolver logo a crise que os EUA produziram e exportaram para todo o mundo. Por causa da economia, mas também pela política, até porque elas andam juntas.
Hoje, Lula é um presidente com 80% de popularidade, num país com reservas de US$ 200 bi, produção industrial crescendo, desemprego caindo e um poderoso setor agrícola. Pronto para fazer o sucessor. Amanhã, ninguém sabe. Tudo pode estar nas mãos de Obama.
A recessão dos EUA puxa a da Europa, da Ásia e dos compradores de commodities em geral, ampliando a reversão de expectativa quanto ao crescimento do Brasil em 2009. Seria de 5%, baixou para 4%, ministros já admitem 3,7% e técnicos vazam que pode ser inferior a 3%. Se for assim, 2010 terá uma combinação explosiva de queda de arrecadação com o efeito retardado, por exemplo, do inchaço da máquina pública e dos aumentos salariais para o funcionalismo.
Para conter essa espiral negativa, é preciso "começar pelo começo": com medidas duríssimas nos EUA.
E lá, como aqui, presidentes tomam medidas duras no início dos mandatos, embalados pela vitória e pela popularidade.
Assim como Obama é "suficientemente inteligente" para saber disso, Lula é suficientemente inteligente para saber que, neste momento, tudo o que é bom para os EUA é bom para o Brasil, e tudo o que for ruim para Obama será péssimo para sua pretensão de fazer o sucessor em 2010.
Obama e Lula, tudo a ver.

elianec@uol.com.br


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