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FERNANDO GABEIRA
Trajetória da esperança
RIO DE JANEIRO - A vitória de
Obama é um manancial de interpretações. Muitos podem mergulhar nele e sair com sua verdade.
Nos EUA, tudo é possível, dirão alguns maravilhados com a democracia norte-americana. Pela primeira
vez um negro chega à Casa Branca,
dirão os interessados em acompanhar a trajetória da luta racial.
Os mais modernos vão atribuir
um grande peso à internet. Obama
e sua equipe usaram o instrumento
de forma competente. Mas é interessante observar alguns pontos: o
simples fato de ser negro não define
em si a vitória de Obama. Outros
negros tentaram. A internet entregue a si mesma não faz nada; o domínio do instrumento não substitui
a força do conteúdo.
Estou convencido de que a análise política de Obama foi um fator
decisivo. Ele concluiu que um tempo estava se acabando, que as querelas dos anos 60 chegavam ao esgotamento. Viu o país dividido entre republicanos e democratas, assim como outros pequenos impasses que o debate nacional estimulava. Resolveu construir pontes.
Esta decisão, para mim, foi sábia.
De que adiantam debates estéreis,
em que se volta para casa com uma
sensação de superioridade moral,
mas nenhum avanço prático?
Uma realidade importante até
para o Brasil: embora existam dois
fortes partidos disputando o poder,
grande parte da população não se
identifica integralmente com eles.
Nos EUA, são os independentes. O
candidato fala para os independentes. É capaz de mobilizá-los? Entre
eles estão 40 milhões de jovens, ávidos por proposta de esperança.
Ao longo de dois anos de campanha, foi possível colocar o país de
pé, esperando, com orgulho, horas
numa fila de votação.
No Brasil, com nossos métodos
modernos, podemos suprimir as filas. Mas estamos em condições de
injetar esperança menos de uma
década depois da eleição de Lula?
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