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JOSÉ SARNEY
Um menino do Havaí
OS ESTADOS Unidos não vão
mudar. Continuarão com
seus problemas, suas contradições, sua crise, suas duas guerras (Iraque e Afeganistão), os contenciosos do Oriente Médio, Coréia do Norte, Irã e, para não ficarmos fora do jogo, os jocosos desafios de Venezuela, Bolívia e Equador. A grande máquina econômica,
política e cultural funcionando.
Uma recessão chegando e uma
imagem internacional discutida
pela ação de George W. Bush, uma
versão atual de Theodore Roosevelt, do "big stick".
Não é que tudo se tenha "cambiado para se quedar lo mismo". A
vitória de Obama não muda, mas
muda tudo. A mensagem que a
América mandou ao mundo apaga
todos os seus equívocos para situar-se no seu forte, que são as
grandes idéias que semeou e mudaram a humanidade: a Declaração
de Independência, com a palavra
de Jefferson de que "todos os homens são iguais" e têm direito "à vida, liberdade e busca da felicidade".
A força da liberdade, seu poder
criador, o sonho de tantos imigrantes de todas as raças e credos, tudo
para a construção de uma sociedade democrática. Nada melhor para
resumir o que aconteceu do que as
palavras do próprio Obama em seu
discurso de vitória: "Se alguém ainda duvida de que a América é um
lugar onde tudo é possível, pergunta se o sonho dos pioneiros está vivo em nossos tempos e questiona o
poder de nossa democracia, esta
noite é sua resposta."
A vitória foi, assim, dos Estados
Unidos. É o país que justifica ao
mundo o porquê de sua liderança e
a sua capacidade de renovar-se,
mesmo em meio a uma tempestade
econômica que ninguém sabe
quando começou e quando irá
terminar.
Quanto ao presidente eleito, sua
rica biografia mostra que as forças
propulsoras do seu êxito são sua inteligência e seu talento político,
formado num cerco de segregação
que o levou a escrever que "o termo
branco era extremamente incômodo em minha boca". Viveu, então, a
capacidade de transitar "entre
meus dois mundos", sabendo que
"com um pouco de colaboração de
minha parte os dois se conciliariam". Ele traz esperança e a carga
adicional de ser um símbolo para a
humanidade de reconciliação das
raças e projeta o ideal de um mundo sem cor de pele e nivelado pelo
sonho de Luther King: o caráter.
Desta mensagem ele teve a responsabilidade histórica de ser o
protagonista. Não pode falhar no
exercício do poder que lhe foi entregue para pacificar, unir e construir um mundo diferente daquele
que encontrou quando nasceu numa noite do Havaí nos braços de
um queniano, preto como a noite,
egresso de uma das tribos mais primitivas do seu país, um menino a
chorar, mas um líder que mudou a
história americana.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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