São Paulo, Terça-feira, 07 de Dezembro de 1999


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HIPOCRISIA GLOBAL

O fracasso da Rodada do Milênio torna um pouco mais incerto o futuro da economia mundial. Não muito, porque só os ingênuos acreditavam, nos últimos meses, que essa reunião de cúpula seria bem-sucedida.
Não se trata de mais uma vez listar conflitos de interesse comercial entre os países filiados à OMC. Aliás, se fosse só essa a dificuldade, as preocupações não seriam tão grandes.
Afinal, mesmo sem uma iniciativa global de liberalização, seria possível algum otimismo com a hipótese de uma gradual convergência de acordos bilaterais ou regionais.
Mas basta observar o protecionismo dos países ricos para começar a descrer de uma suposta tendência de ampliação do acesso a seus mercados. Na liberalização do comércio, impera a hipocrisia em escala global.
Assim, para países como o Brasil, que se abriram nos últimos anos, o fracasso da Rodada talvez seja melhor. Caso contrário, possivelmente os ricos imporiam mais abertura sem dar muito em troca.
Nem se trata apenas de conflitos de interesse comercial. Como lembrou o secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), ex-ministro da Fazenda do Brasil, Rubens Ricupero, o que está em jogo é um "desafio à legitimidade do sistema".
Ora, se uma tal crise de legitimidade se aprofundar, os espaços de negociação internacional ficarão cada vez mais estreitos, mesmo para as iniciativas bilaterais ou localizadas.
O problema de legitimidade não se restringe à OMC. Nos últimos anos, quando mais países apostaram na liberalização, quase todas as instituições multilaterais voltadas para questões econômicas (como o Banco Mundial e o FMI) e políticas (sobretudo a ONU) perderam credibilidade.
Além da frustração social, que aumentou quando esses organismos apoiavam políticas liberais, consolidou-se o monopólio de poder dos EUA, que tampouco contribui para a legitimidade do sistema global.
É esse fracasso, muito mais amplo e ameaçador, que ao mesmo tempo explica e agrava o malogro da OMC.



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