|
Próximo Texto | Índice
HIPOCRISIA GLOBAL
O fracasso da Rodada do Milênio
torna um pouco mais incerto o futuro da economia mundial. Não muito,
porque só os ingênuos acreditavam,
nos últimos meses, que essa reunião
de cúpula seria bem-sucedida.
Não se trata de mais uma vez listar
conflitos de interesse comercial entre
os países filiados à OMC. Aliás, se
fosse só essa a dificuldade, as preocupações não seriam tão grandes.
Afinal, mesmo sem uma iniciativa
global de liberalização, seria possível
algum otimismo com a hipótese de
uma gradual convergência de acordos bilaterais ou regionais.
Mas basta observar o protecionismo dos países ricos para começar a
descrer de uma suposta tendência de
ampliação do acesso a seus mercados. Na liberalização do comércio,
impera a hipocrisia em escala global.
Assim, para países como o Brasil,
que se abriram nos últimos anos, o
fracasso da Rodada talvez seja melhor. Caso contrário, possivelmente
os ricos imporiam mais abertura sem
dar muito em troca.
Nem se trata apenas de conflitos de
interesse comercial. Como lembrou
o secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), ex-ministro da Fazenda do Brasil, Rubens
Ricupero, o que está em jogo é um
"desafio à legitimidade do sistema".
Ora, se uma tal crise de legitimidade se aprofundar, os espaços de negociação internacional ficarão cada
vez mais estreitos, mesmo para as
iniciativas bilaterais ou localizadas.
O problema de legitimidade não se
restringe à OMC. Nos últimos anos,
quando mais países apostaram na liberalização, quase todas as instituições multilaterais voltadas para questões econômicas (como o Banco
Mundial e o FMI) e políticas (sobretudo a ONU) perderam credibilidade.
Além da frustração social, que aumentou quando esses organismos
apoiavam políticas liberais, consolidou-se o monopólio de poder dos
EUA, que tampouco contribui para a
legitimidade do sistema global.
É esse fracasso, muito mais amplo
e ameaçador, que ao mesmo tempo
explica e agrava o malogro da OMC.
Próximo Texto: Editorial: MAIS GRAXA NO DNER Índice
|