São Paulo, Terça-feira, 07 de Dezembro de 1999


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A casa Brasil

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Digamos que você tivesse uma casa que lhe custou imensos sacrifícios para comprar ou construir. Uma casa que valia R$ 383 mil.
Aí, as circunstâncias da vida levam a que você decida vender a casa. Consegue fazê-lo, por, digamos, R$ 562 mil. Bom negócio, não é?
Seria, se, para vender a casa, você não tivesse sido obrigado a dar ao comprador empréstimo e outros benefícios, no valor total de R$ 450 mil. Tudo somado, você levou nitidamente na cabeça, certo?
Foi rigorosamente isso o que aconteceu com a venda das estatais brasileiras, conforme detalhada reportagem de Roberto Cosso publicada domingo por esta Folha. Basta mudar apenas os milhares de reais do exemplo por bilhões de dólares e tem-se um caso da vida real.
De novo, vale repetir: não se trata de condenar as privatizações em si. Parece comprovado que o poder público é mau gestor em uma série de áreas.
O problema está na maneira como elas foram feitas. Sei que haverá mil e uma explicações para o fato de o governo ter ajudado os compradores com benefícios que superam o valor arrecadado, depois de descontado o que valiam as estatais.
Mas qualquer explicação esbarra numa lógica implacável: na grande maioria dos casos, venderam-se empresas atraentes, capazes de gerar formidáveis lucros (em alguns setores, elas eram lucrativas até mesmo como estatais, apesar do empreguismo político que as manietava).
Logo, os compradores seriam por elas atraídos de qualquer maneira, mesmo que o governo não desse incentivo algum. Basta lembrar o jogo sujo de escutas clandestinas em torno da venda das telefônicas para perceber o alto valor dos ativos leiloados e o formidável interesse dos compradores.
É inescapável a sensação de que o governo, mais por uma questão de fé ideológica do que por uma lógica negocial, jogou fora um belo naco do seu, do meu, do nosso dinheiro.


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