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ELIANE CANTANHÊDE
Fernandinho Paz e Amor
SÃO PAULO - FHC selou uma trégua com Lula, pelo menos durante a
sabatina de ontem na Folha.
Foi cauteloso ao falar nos Valdomiros, mensalões e aloprados; ao
admitir que, sem reforma política, a
relação com o Congresso é difícil
em qualquer governo e para qualquer presidente; ao dizer que Lula
não é como "certos vizinhos" (Chávez?) e, enfim, ao elogiar o homem
do povo que Lula é: "Eu gosto dele."
Não pareceu ironia do sempre irônico FHC.
Para não passar em branco, escolheu outro alvo: o ex-ministro Delfim Netto. Disse que conviveram na
USP, mas nunca foram próximos, já
que Delfim era tão aliado dos governos militares como é hoje do governo Lula. "Coerente", sapecou.
Para FHC, falando ora como sociólogo, ora como ex-presidente, e
pouco como tucano roxo, tudo é
uma questão de "conjuntura". Lula
foi eleito porque, naquela conjuntura, cabia um "candidato do povo"
(e não porque o povo votou contra
o seu próprio governo...). A CPMF
se justificava no seu governo, mas
agora a conjuntura é outra e permite corte de gastos. (Ah, bem!)
Numa platéia com um ou outro
ex-ministro e amigo de FHC, as
perguntas escritas indicaram predominância de tucanos, com queixas à incompetência do PSDB na
oposição. "Uma oposição opaca",
reclamou um. "Se [os atuais escândalos] fossem no seu governo, o sr.
teria tido impeachment", radicalizou outro.
FHC foi elegante e inteligente,
como sempre, mas não conseguiu
justificar a falta de diretrizes e de
discurso do PSDB na oposição a
Lula. Não foi convincente para responder o que mais a platéia parecia
esperar ontem, como os eleitores
tucanos provavelmente vão esperar nas campanhas: se o governo
Lula faz tudo o que o governo FHC
fazia, e até aprofunda o bom e o
mau, por que raios voltar atrás e
reeleger os tucanos?
elianec@uol.com.br
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