|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ SARNEY
Nós e os macacos
NA MINHA infância, a teoria
certa e acabada era que vínhamos dos macacos. Com
o tempo, cresci e fui aprendendo
outra teoria: que os macacos eram
nossos primos, mas não nossos
pais. Afinal, o certíssimo é que somos da mesma família. Agora, com
a persistência dos cientistas, estamos a descobrir que esses parentes
são melhores do que nós em matemática. Devem ser, também, em
outras coisas. Dos japoneses já batem na memorização seqüencial.
Tudo isso surge quando, por
coincidência, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulga, em
seu relatório sobre o desempenho
do aprendizado, que os brasileiros
são reprovados em matemática e
ficam no ranking mundial, entre 57
países pesquisados, no 53º lugar, à
frente apenas de Tunísia, Qatar e
Quirguistão. E, como se isso não
bastasse para ficarmos de cabeça
baixa, ainda ficamos no 48º lugar
em leitura, e aí, para consolo nosso,
à frente de Argentina e Colômbia,
que não gostam ou não querem ler.
Tenho dito sempre que o mundo
do futuro não será dos países grandes ou pequenos, mas daqueles que
dominarem ou não o conhecimento humano. Essa constatação já nos
foi antecipada no presente pelo pequeno Japão. O grande problema
que temos pela frente é realmente
o da educação. Por isso vejo com
redobrada alegria a importância
que está dando para o problema o
atual ministro da Educação, Fernando Haddad, procurando enfrentar não só a face física da rede
escolar mas, sobretudo, a qualidade do nosso ensino, cujo nível baixo é revelado em aferições nacionais e internacionais. O que nos faz
ainda mais preocupados é o fato de
São Paulo, Estado mais rico do
mais, apresentar índices baixos, o
que exclui um vínculo entre pobreza e baixo índice educacional. Este
não é um problema conjuntural,
não diz respeito a governos, mas é
estrutural, vem de longe, e marca a
tendência secular brasileira de
preocupar-se mais com a economia do que com o saber, ao contrário do Japão da dinastia Meiji, no
fim do século 19, e da Coréia, no século 20. O ministro Paulo Renato
fez grande esforço para universalizar a matrícula escolar, chegando
perto dos cem por cento. Mas o
problema é muito complexo, envolvendo repetência, abandono da
escola, analfabetismo funcional e a
remuneração dos professores.
Os macacos estudiosos do Japão
nos ensinam que o esforço de investir em educação pode dar resultados. E, para não falar só em macacos, as vacas, que são consideradas vilãs do aquecimento global,
pela difícil digestão e grandes arrotos, agora podem melhorar essa
falta de educação com uma pílula
antiarroto descoberta pelo cientista alemão Dochner. Nós e os bichos, problemas e soluções.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Nelson Motta: Metamorfose ou ouro de tolo? Próximo Texto: Frases
Índice
|