São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2002

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FERNANDO CANZIAN

Fornecedores e drogadictos

SÃO PAULO - Antes mesmo de obter o apoio formal do Congresso às novas medidas econômicas no domingo, o novo governo argentino já havia revelado detalhes do plano à vice-diretora gerente do FMI, Anne Krueger, em contato na sexta-feira.
Não foi o FMI o acusado de drogar a economia argentina com dinheiro e pedir sacrifícios insuportáveis? E o enxovalhamento nos protestos de rua? O que querem agora?
No momento, US$ 20 bilhões. E seria bom que o dinheiro saísse. Permitiria à Argentina entrar com o pé calçado no duro caminho que será o de reerguer sua economia. Mas seria bom também que ficasse gravado de quem partiu a iniciativa.
Parece haver uma divisão hoje, preto e branco, entre os que culpam o Fundo pelos desastres dos países e os que põem a responsabilidade nos países por vício em dinheiro alheio.
O FMI empresta, mas pede medidas draconianas e de interesse de seu principal sócio, os EUA. Produtos ""Made in USA" devem ser comprados, o capital deve ser livre etc. Já os países deveriam ser independentes, donos de seu destino. Mas isso é para gente competente. Dá um trabalho...
Há cinza entre o preto e o branco, mas claro está que é ilusão achar que mudanças virão do fornecedor a quem estamos habituados a recorrer em momentos de tremedeira.
Como exemplo, segue o comentário fresco de Lawrence Lindsey, conselheiro econômico da Casa Branca, sobre um de seus dependentes latino-americanos: "O problema fundamental da Argentina é como eles administram o país".
Pode ser hipocrisia de quem já confiou na condução do país e a elogiou, mas é a pura verdade. Se não devesse ou temesse, a Argentina não teria de engolir a seco essa agora.
No caso brasileiro, muitos crêem que o país se venha imolando no altar do FMI desde o início do Plano Real, em 1994. Mas a verdade é que estamos apenas há três anos pagando -e bem caro- pela farra e pelo populismo cambiais que congelaram o dólar a R$ 1,22 até o início de 99.
Agora, chegou a vez de a Argentina tentar a dolorosa desintoxicação.


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