|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO CANZIAN
Fornecedores e drogadictos
SÃO PAULO - Antes mesmo de obter o apoio formal do Congresso às novas medidas econômicas no domingo, o
novo governo argentino já havia revelado detalhes do plano à vice-diretora gerente do FMI, Anne Krueger,
em contato na sexta-feira.
Não foi o FMI o acusado de drogar
a economia argentina com dinheiro
e pedir sacrifícios insuportáveis? E o
enxovalhamento nos protestos de
rua? O que querem agora?
No momento, US$ 20 bilhões. E seria bom que o dinheiro saísse. Permitiria à Argentina entrar com o pé calçado no duro caminho que será o de
reerguer sua economia. Mas seria
bom também que ficasse gravado de
quem partiu a iniciativa.
Parece haver uma divisão hoje,
preto e branco, entre os que culpam o
Fundo pelos desastres dos países e os
que põem a responsabilidade nos
países por vício em dinheiro alheio.
O FMI empresta, mas pede medidas draconianas e de interesse de seu
principal sócio, os EUA. Produtos
""Made in USA" devem ser comprados, o capital deve ser livre etc. Já os
países deveriam ser independentes,
donos de seu destino. Mas isso é para
gente competente. Dá um trabalho...
Há cinza entre o preto e o branco,
mas claro está que é ilusão achar que
mudanças virão do fornecedor a
quem estamos habituados a recorrer
em momentos de tremedeira.
Como exemplo, segue o comentário
fresco de Lawrence Lindsey, conselheiro econômico da Casa Branca,
sobre um de seus dependentes latino-americanos: "O problema fundamental da Argentina é como eles administram o país".
Pode ser hipocrisia de quem já confiou na condução do país e a elogiou,
mas é a pura verdade. Se não devesse
ou temesse, a Argentina não teria de
engolir a seco essa agora.
No caso brasileiro, muitos crêem
que o país se venha imolando no altar do FMI desde o início do Plano
Real, em 1994. Mas a verdade é que
estamos apenas há três anos pagando -e bem caro- pela farra e pelo
populismo cambiais que congelaram
o dólar a R$ 1,22 até o início de 99.
Agora, chegou a vez de a Argentina
tentar a dolorosa desintoxicação.
Texto Anterior: Editoriais: ABISMO RACIAL Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Hermanos! Índice
|