São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2002

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ABISMO RACIAL

Num exercício eloquente, um pesquisador calculou as diferenças na qualidade de vida de brancos e negros no Brasil. Brancos ocupam o equivalente ao 46º lugar no ranking do IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, criado pela ONU; negros e mulatos estão na 101ª posição. Na classificação oficial, sem distinguir os dois grupos, o Brasil fica em 69º. O IDH leva em consideração indicadores como educação, expectativa de vida e renda per capita.
A primeira constatação que se impõe a partir do trabalho de Marcelo Paixão, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é a de que a população branca tem um nível de vida compatível com o de países relativamente ricos. No ranking das Nações Unidas, quem ocupa a 46ª posição entre as 162 nações avaliadas é a Croácia. Em 45º lugar estão os Emirados Árabes Unidos. Ambos são apontados pelo IDH como países de alto desenvolvimento humano.
Já negros e mulatos ficam ao lado de nações como Vietnã (101º lugar) e Argélia (100ª posição), que têm índice de desenvolvimento de médio para baixo. Em bom português: são países subdesenvolvidos.
A rigor nem era necessário um trabalho acadêmico para mostrar que negros e mulatos no Brasil vivem pior do que brancos. Mas é perturbador constatar que o fosso que separa esses dois grupos é tão profundo.
Entre as mais urgentes necessidades do Brasil está a de promover a integração racial. Num país em que a cor da pele ainda separa os mais ricos dos mais pobres, resolver o problema do racismo é quase sinônimo de solucionar a desigualdade.
Ações afirmativas devem ser implementadas. O caminho é o da educação. É preciso garantir que negros tenham a oportunidade de estudar e frequentar universidades. Esta Folha se opõe à reserva de quotas em instituições públicas, o que apenas criaria novas injustiças, mas defende politicas ativas de inclusão.


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