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ANTONIO DELFIM NETTO
O PT-jacobino
Há um PT-jacobino que insiste em
impor à área econômica uma política macroeconômica original que
eles supõem conhecer, mas da qual fazem o maior segredo. As experiências
com as políticas macroeconômicas da
"esquerda salvacionista" são uma retumbante coleção de fracassos. Como
sempre soube a "esquerda séria", elas
terminam, invariavelmente, com a ditadura "sobre" o proletariado... O
mais recente exemplo é o do Zimbábue, onde o sr. Robert Mugabe repete,
com diligência e eficiência, os erros
que a esquerda jacobina cometeu em
todos os países africanos de que se
apoderou e destruiu pela força.
O desenvolvimento se faz pela mobilização dos recursos humanos e materiais do país, e o papel do governo na
construção da infra-estrutura física e
social é fundamental. O problema é
que ele só pode exercê-lo na medida
em que gerar poupança orçamentária
para financiá-las, ou quando tiver a
confiança interna e externa para colocar dívida pública a taxas de juros
reais inferiores às taxas de retorno
reais dos seus investimentos. O grande economista Mugabe, que crê que
os preços sobem "porque os empresários são gananciosos", que "as forças
do mercado assaltam os pobres", que
"o câmbio negro é obra de especuladores", está tentando o desenvolvimento com déficit fiscal que se aproxima de 20% do PIB e já produz uma inflação avassaladora. Todos sabemos
como, mais cedo ou mais tarde, isso
vai terminar...
A política macroeconômica tem que
produzir a estabilidade dos preços, estimulando a economia a crescer a uma
taxa robusta sem criar problemas de
solvibilidade na dívida interna e na externa. Isso sugere o uso moderado da
poupança externa para reduzir a volatilidade do câmbio.
No mais, é o governo cumprir o seu
papel na criação da infra-estrutura
material (transporte, energia etc.) e
social (educação, saúde etc.) dentro
do equilíbrio fiscal. O setor privado, se
dispuser de taxa de juro real de longo
prazo igual à taxa de retorno dos seus
investimentos, mobilizará os fatores
de produção disponíveis em combinações produtivas eficientes. Isso exige, entretanto, uma política de crédito
adequada, um sistema tributário pouco distorcivo e a construção de instituições que facilitem o funcionamento
dos mercados financeiro, de capital e,
particularmente, de trabalho.
E o Banco Central? O PT-jacobino
insiste que o papel do Banco Central é
produzir o desenvolvimento por meio
da manipulação da taxa de juro nominal de curto prazo. Trata-se de lamentável equívoco. Todo o conhecimento
econômico teórico não rejeitado pela
pesquisa empírica nos últimos 30
anos mostra que isso produziria, no
prazo médio, mais inflação do que
crescimento. O que não se deve é fixar
metas inflacionárias excessivamente
exigentes. Em condições normais, em
que não existe dúvida sobre a solvibilidade das dívidas interna e externa, o
papel do Banco Central é tentar manter a taxa de juro real de longo prazo
igual à taxa de retorno das atividades
econômicas. É por isso que a taxa de
juro sobe quando a economia está se
expandindo (a taxa de retorno está subindo) e diminui quando a economia
está retraindo (a taxa de retorno está
caindo).
A diferenciação do governo Lula
com relação ao de FHC não será na
política macroeconômica. Se houver,
será nas políticas públicas setoriais e
nas prioridades sociais.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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