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CLAUDIA ANTUNES
Os tempos e o calendário
RIO DE JANEIRO - Se existe uma
marca do início do governo Lula, que
o diferencia da tradição brasileira,
ela é a falta de surpresas. Não há pacotes econômicos nem emendas constitucionais redigidas com antecedência à espera que o novo Congresso os
ratifique no roldão da popularidade
do presidente recém-eleito.
A impressão é que Lula e os estrategistas do PT trabalham com dois
tempos. No primeiro, a promessa de
continuidade na política monetária
pretende garantir uma folga na pressão do mercado e no arrocho do crédito, enquanto projetos como o Fome
Zero canalizam o entusiasmo dos militantes e contêm as "legítimas ansiedades sociais" mencionadas no discurso de posse.
No segundo, ministros em pastas
estratégicas mantêm o governo articulado com os movimentos populares, enquanto reformas são negociadas no Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social. Além de instrumento de pressão sobre o Legislativo,
o conselho deve, segundo Tarso Genro, ajudar "na construção de uma
nova maioria política que impeça o
retrocesso no país".
No plano ideal, esses dois tempos,
às vezes contraditórios, se entrelaçariam dialeticamente, produzindo, a
médio prazo, as mudanças qualitativas que a maioria deseja, embora seu
sentido não esteja claro. Teoricamente, é uma boa estratégia. Mas falta,
como diz o jargão esportivo, combinar com o adversário. Além dos problemas de fundo -para mudar, alguém tem que perder, e confrontos
que o PT tenta evitar a todo custo
surgirão inevitavelmente-, o calendário político é outro obstáculo.
A idéia de processo, como idealizam os petistas, combina pouco com
as exigências de resultados rápidos
que daqui a pouco estarão sendo feitas. O Congresso, que elege seu presidente em fevereiro, e os partidos de
oposição não poderão ser ignorados.
Daqui a menos de dois anos, as eleições municipais serão um marco.
Elas indicarão se a aposta do PT no
tempo longo deu resultados ou se as
urgências falarão mais alto para os
eleitores.
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