São Paulo, Sexta-feira, 08 de Janeiro de 1999
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Matar ou morrer

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Em política, há um jeitinho para tudo. Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso têm apenas 12 dias, até 20/1, para encontrar esse jeitinho. Senão é matar ou morrer.
O antecessor não está apenas exigindo créditos e vantagens para Minas, mas sacando primeiro, e rápido, para pegar o sucessor desprevenido.
Itamar é imprevisível, suscetível, ressentido, vingativo; FHC é um conciliador que jamais diz "não" e prefere dar tempo ao tempo.
O que se pode esperar do embate? Que Itamar radicalize sempre mais no ataque e que FHC recue cada vez mais para a defesa.
O resultado seria o questionamento crescente da autoridade presidencial, já chamuscada por incertezas na economia, grampos telefônicos, perda de quadros e excesso de concessões à misteriosa entidade "base aliada".
É evidente que comprar briga com Itamar não é fácil. Não é para FHC, não seria para ninguém. Mas é quase uma questão de sobrevivência. Política, porque define quem manda. Econômica, porque insufla ou murcha os demais governadores.
Se Itamar jogou uma bomba, jamais se poderá menosprezar o arsenal de FHC e Pedro Malan. A dúvida é se eles têm coragem de acioná-lo.
O impassível Malan vai à luta com as armas do contrato de renegociação da dívida mineira: se até o dia 20 Itamar não pagar, o Estado pode ficar sem o ICMS (imposto estadual) e sem o repasse do FPE (Fundo de Participação dos Estados), além de recuar para juros de mercado de quase 30%.
Politicamente, quem mais poderia entrar nessa se não o velho de guerra Antonio Carlos Magalhães? Multiplique-se por dez a gana de Itamar por FHC e tem-se a gana de ACM por Itamar -o único presidente que o enfrentou publicamente, e com sucesso.
A situação é delicada, mas Itamar sabia o que fazia ao ir tão longe. Ocupou o vácuo de uma liderança de oposição e apostou suas fichas na incapacidade de FHC de reagir. É exatamente por isso que ele tem que reagir.


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