São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O dólar, o euro e o Brasil

O euro está numa rota de valorização meteórica. Nos últimos dois anos, a moeda européia valorizou-se cerca de 40% em relação ao dólar, tendo chegado a quase US$ 1,30.
Há analistas que consideram essa supervalorização apenas uma "bolha", prevendo um recuo do euro para um valor médio de US$ 1,06 em 2005. Em contrapartida, há os que consideram o valor atual um reflexo de uma política orgulhosa do Banco Central Europeu que pode levar o euro a valer US$ 1,40.
Quais as conseqüências de um euro caro para a economia mundial e para o Brasil?
Os produtores que exportam para a União Européia estão gostando, pois recebem cerca de R$ 3,60 por 1. Os que viajam para a Europa estão detestando, pois têm de desembolsar R$ 3,60 para comprar 1.
Mas o Brasil não está isolado. A economia mundial sofre impactos positivos e negativos provenientes de um euro alto. O que sobrará para o Brasil nesse processo?
Do lado positivo, o euro sobrevalorizado tornou os bens europeus muito caros e os americanos muito baratos. Isso desestimula as importações da Europa para os Estados Unidos e estimula a entrada de capitais externos naquele país -todos eles em busca de propriedades, empresas, ações e títulos, que se tornaram baratos para os europeus. Os Estados Unidos usam a apreciação do euro para financiar o seu enorme déficit público, acelerando a recuperação americana.
Do lado negativo, o euro alto está causando sérios danos às exportações da União Européia, cuja economia (que tem crescido muito menos do que a americana) poderá entrar em estagnação prolongada se nada mudar. Nós, brasileiros, sentimos na carne a enxurrada de importações e viagens desnecessárias e a enorme dificuldade de exportar durante um longo período de sobrevalorização do real, que começou com US$ 1 valendo R$ 0,87 em 1994 e estabilizou em R$ 1,21 até janeiro de 1999. O país paga até hoje os erros daquela política.
Moedas apreciadas ou depreciadas em excesso não são úteis para ninguém. No caso, o atual desequilíbrio entre euro e dólar trará malefícios a médio prazo, inclusive para o Brasil. O ideal é ter um forte fluxo de comércio entre Estados Unidos e União Européia para que os países usem, no limite, a sua capacidade de vender e de comprar.
É uma ilusão para o Brasil torcer indefinidamente por um euro nas nuvens. Isso levará recessão à União Européia, que é um dos principais mercados compradores dos bens e serviços do Brasil. Ademais, estamos longe das condições dos Estados Unidos, que, apesar de uma taxa de juros baixíssima, atrai capitais europeus para o setor produtivo que gera empregos.
Nós, no Brasil, precisamos de um equilíbrio entre as duas moedas para que Estados Unidos e União Européia importem o mais possível os bens e serviços brasileiros, o que ajudaria a gerar os nossos próprios empregos. Além disso, temos de trabalhar duro para consolidar os fundamentos da economia e as condutas efetivas do governo para que o Brasil possa atrair capitais produtivos das duas maiores economias do mundo.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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