São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Maioria para nada

RIO DE JANEIRO - Mudaram o ministério, parcialmente embora, para absorver o novo aliado da base governista, por sinal um partido poderoso, decisivo nas votações do Congresso. Se, amanhã, o PFL, o PDT ou outro qualquer partido que ainda não pertença ao rebanho de Lula decidir enquadrar-se, engordando o time das vaquinhas de presépio que sempre dirão sim ao Planalto, certamente haverá nova reforma, ministros bons ou maus sairão para entrarem os novos aliados, bons ou maus, não importa.
Daí se pode concluir que o único projeto em execução pelo governo é construir uma quase unanimidade nas duas casas do Congresso, unanimidade que somente os Estados totalitários conseguem obter -ou com o partido único, ou com a corrupção eleitoral, comprando o apoio com cargos e benesses várias.
Se a finalidade petista, chegando ao governo, é dispor de uma maioria compacta que lhe garanta a governabilidade, certamente teremos novas reformas e novos apoios.
Acontece que um partido habilita-se ao poder não exatamente para governar, mas para concretizar os projetos nacionais que formaram seu programa partidário. Para isso, encontrará dificuldades nas hostes adversárias, mas cabe ao partido provar a qualidade do projeto e provar sua capacidade em executá-lo.
Nem Rodrigues Alves nem JK, que fizeram administrações dinâmicas, contaram com maiorias no Congresso. Pelo contrário. Foram combatidos ferozmente, até com armas na mão, como no caso de JK. Mas realizaram o projeto que traziam na cabeça.
Quando mudaram ministros, e JK me parece que foi o presidente que mais mudou o ministério, a finalidade da mudança não era ampliar o apoio no Congresso, mas obter executivos capazes de operar o que o governo pretendia.
O afã do Planalto em formar uma maioria cada vez maior revela o óbvio: Lula não tem exatamente um programa de ação, mas um conjunto de idéias simpáticas que continuarão simpáticas e nunca realizadas.



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