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Universal e medíocre
Ensino básico está pior que há dez anos e só vai melhorar num ambiente de estímulo à excelência e cobrança de resultados
AO DIVULGAR ontem os
resultados do Saeb
(Sistema Nacional de
Avaliação da Educação
Básica), o MEC apresentou à sociedade um conhecido diagnóstico: a universalização do acesso
não se fez acompanhar de melhoria na qualidade do ensino.
O Saeb é o principal instrumento de avaliação da educação.
A cada dois anos, uma amostra
de alunos selecionada para representar o total é avaliada em
testes de português e matemática na 4ª e na 8ª série do ensino
fundamental e no 3º ano do ensino médio. De 1995 a 2005, a nota
média caiu em todas as provas.
Foi justamente nesse período
que houve significativo avanço
na universalização. Nesses dez
anos, na faixa etária de 7 a 14, segundo o IBGE, o percentual de
crianças fora da escola caiu de
9,8% para 2,6%. De 15 a 17, a redução foi de 33,4% para 18%.
É urgente que o Brasil vire a
página da universalização e se
concentre na qualidade, especialmente no que diz respeito ao
ensino fundamental -em que a
proporção de crianças fora da escola hoje é residual.
A experiência da última década
mostrou que o problema não é só
financeiro. O Fundef -fundo
que desde 1997 redistribui receitas de impostos de União, Estados e municípios- teve pouco
impacto na qualidade, apesar de
sua importância na universalização. As médias caíram de 1995 a
2005 na 4ª e na 8ª série do ensino fundamental.
Será um erro, portanto, esperar que a simples implementação do Fundeb -fundo que ampliará o financiamento para toda
a educação básica, agregando o
nível infantil e o médio- resolverá o problema.
A cobrança por melhores resultados deve ser a principal
preocupação de pais, professores
e gestores públicos.
Hoje quase não há incentivo ou
reconhecimento às escolas que
mais avançam; ao mesmo tempo,
as que estão em pior situação não
se tornam alvo de ações especiais
destinadas a recuperar o atraso.
Os melhores professores aprovados em concursos, por exemplo,
deveriam ser alocados nas instituições de desempenho ruim (e
remunerados com distinção),
em vez de terem a liberdade de
escolher onde querem lecionar.
O MEC avançou ao publicar,
na Prova Brasil -instrumento
que aprofunda os resultados do
Saeb-, a nota de cada escola e
município. Pais e professores, no
entanto, deveriam ter acesso facilitado a esses dados, para exigir
melhorias de cada diretor.
Uma pesquisa de 2005 com
dez mil pais mostrou que ainda
estamos longe de um ambiente
em que haja cobrança por melhores resultados. Os pais se
mostraram satisfeitos com a
qualidade do ensino ministrado
a seus filhos e deram nota 8 para
a infra-estrutura escolar.
O amplo acesso à informação, a
bonificação de docentes e escolas com bom desempenho, o foco
nas necessidades do aluno, o aumento do tempo em que o estudante fica sob responsabilidade
de educadores e o envolvimento
dos pais no dia-a-dia escolar são
alguns dos caminhos para o Brasil superar a mediocridade universal a que está entregue a educação de nossas crianças.
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