|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PLÍNIO FRAGA
Corpos estendidos no chão
RIO DE JANEIRO - "Desde 1º de
fevereiro, 75 mortos e 38 feridos."
Eram essas ontem as informações
básicas do sítio na internet Riobodycount - que é o que seu nome
diz: uma página com a contagem de
mortos e feridos pela violência urbana, a partir de notícias recolhidas
nos jornais, na televisão, nas agências de notícias em tempo real.
Colocado no ar no Brasil pelo cartunista André Dahmer, repete sítio
norte-americano que conta as vítimas civis desde o início da invasão
dos EUA ao Iraque. Ambas as páginas relatam suas mortes caso a caso. A americana começou a ser feita
a partir da frase do general Tommy
Franks, que comandava as tropas
no Iraque: "Não fazemos contagem
de corpos".
Ontem, a página americana mostrava um mínimo de 55.664 mortos
e um máximo de 61.639 -a imprecisão dos números reflete a dificuldade de acesso aos dados. No mesmo período (2003-2006), morreram no Rio mais de 18 mil pessoas,
praticamente um terço dos assassinados no Iraque -é um detalhe que
lá é uma guerra aberta e declarada?
A média diária de assassinatos no
Rio é 16. Em sete dias deste mês, o
sítio Riobodycount registrava 75
mortos. A seguir a média anual,
houve 37 mortos que nem sequer
chegaram ao conhecimento da imprensa, a fonte que alimenta o sítio
na internet. Ou seja, a página registra 67% das mortes ocorridas -caso mantenha-se a média de homicídios em patamares próximos, o que
ocorre há pelo menos cinco anos.
"Não me interesso por uma paz
vigiada e frágil, mantida por um Estado truculento", justificou André
Dahmer numa entrevista.
De que adiantam iniciativas como essa? Pouca coisa. Mas é uma
tentativa de não deixar que o tema
se vulgarize a ponto de a indiferença tornar-se natural, corriqueira,
aceitável, como ocorre com os habitantes de uma cidade em guerra.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Prêmio aos derrotados Próximo Texto: Maria Sylvia Carvalho Franco: Universidades paulistas Índice
|