São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2007

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PLÍNIO FRAGA

Corpos estendidos no chão

RIO DE JANEIRO - "Desde 1º de fevereiro, 75 mortos e 38 feridos." Eram essas ontem as informações básicas do sítio na internet Riobodycount - que é o que seu nome diz: uma página com a contagem de mortos e feridos pela violência urbana, a partir de notícias recolhidas nos jornais, na televisão, nas agências de notícias em tempo real.
Colocado no ar no Brasil pelo cartunista André Dahmer, repete sítio norte-americano que conta as vítimas civis desde o início da invasão dos EUA ao Iraque. Ambas as páginas relatam suas mortes caso a caso. A americana começou a ser feita a partir da frase do general Tommy Franks, que comandava as tropas no Iraque: "Não fazemos contagem de corpos".
Ontem, a página americana mostrava um mínimo de 55.664 mortos e um máximo de 61.639 -a imprecisão dos números reflete a dificuldade de acesso aos dados. No mesmo período (2003-2006), morreram no Rio mais de 18 mil pessoas, praticamente um terço dos assassinados no Iraque -é um detalhe que lá é uma guerra aberta e declarada?
A média diária de assassinatos no Rio é 16. Em sete dias deste mês, o sítio Riobodycount registrava 75 mortos. A seguir a média anual, houve 37 mortos que nem sequer chegaram ao conhecimento da imprensa, a fonte que alimenta o sítio na internet. Ou seja, a página registra 67% das mortes ocorridas -caso mantenha-se a média de homicídios em patamares próximos, o que ocorre há pelo menos cinco anos.
"Não me interesso por uma paz vigiada e frágil, mantida por um Estado truculento", justificou André Dahmer numa entrevista.
De que adiantam iniciativas como essa? Pouca coisa. Mas é uma tentativa de não deixar que o tema se vulgarize a ponto de a indiferença tornar-se natural, corriqueira, aceitável, como ocorre com os habitantes de uma cidade em guerra.


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