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CLÓVIS ROSSI
O castelo é Brasília
SÃO PAULO - O escândalo do momento não deveria ser o castelo do
deputado Edmar Moreira (DEM-MG) mas o fato de que o Congresso
Nacional é, ele próprio, um grande
castelo, se se tomar castelo como sinônimo de um sistema político
mais próprio do absolutismo monárquico que da democracia.
Sob aquelas duas cuias da praça
dos Três Poderes, vivem reizinhos,
um punhado de barões e não mais
que meia dúzia de gente que de fato
faz política no sentido de atuação
em favor da coisa pública.
É uma típica corporação medieval, que protege os seus integrantes
contra vento e maré -nos raros
momentos em que há vento e maré
contra eles.
Não, não pense que a fase atual,
em que há assanhamento a respeito
do castelo, represente um incômodo sério para essa gente. Nada. A
grande maioria sabe que sua reeleição não depende de a mídia apontar
o dedo para eles, mas da capacidade
de engabelação de súditos desprovidos de informação, muitas vezes
desprovidos de condições mínimas
de vida digna e que veem nos donos
dos castelos -reais ou fictícios-
seus suseranos.
Só assim se entende que barões e
reizinhos busquem, segundo esta
Folha, uma "saída honrosa" para
Edmar Moreira, que seria retirá-lo
do cargo de corregedor, sem afastá-lo da Mesa Diretora.
Posto de outra forma, Edmar
Moreira não serve para zelar pela
correção de seus pares, mas serve
para participar do comando deles
-uma maneira indireta de confessar que reis e barões não estão minimamente preocupados com a
correção. Só querem que cesse o
ruído de alguns aldeões.
Uma reportagem da revista "Veja" de dez anos atrás já levantava
dúvidas sobre o castelo. Tampouco
são de hoje as acusações e ações legais contra Moreira, que revelam
comportamento incompatível com
o decoro parlamentar.
Mas a Corte protege os seus, façam os seus o que fizerem.
crossi@uol.com.br
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