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ELIANE CANTANHÊDE
Xenofobia
BRASÍLIA - Um espectro ronda a
Europa e todo o mundo desenvolvido: o do "nacionalismo", sob as formas do protecionismo econômico,
que limita as transações comerciais
e alimenta a crise, e da xenofobia,
que, além de todos os seus aspectos
subjetivos, carrega um muito objetivo -não salva nem a pele nem o
emprego de ninguém.
Tempos de bonança são de confraternização. Já as crises fazem desabrochar o lado cruel dos regimes
políticos e econômicos, mais os
monstros que habitam a alma humana e que, coletivamente, produzem atraso, perseguição, desumanidade. Em cadeia.
O mundo ficou chocado com movimentos de trabalhadores do Reino Unido contra "concorrentes"
portugueses e italianos, mas a própria Itália e a Espanha votam leis
para punir duramente patrões que
empreguem imigrantes ilegais.
Com o detalhe sórdido, senão fascista, de impor aos médicos italianos que denunciem seus pacientes.
Na Rússia, a queda do rublo e do petróleo é pretexto para endurecer
contra os direitos humanos. E, nos
EUA, conforme relatou Andrea
Murta na Folha, ativistas anti-imigração já põem suas manguinhas
de fora, não só em movimentos sociais mas no próprio Congresso.
Começa assim, com uma manifestação daqui, um discurso dali,
uma nova lei acolá, e logo a onda ganha corpo e alma racistas. Primeiro, contra portugueses e italianos;
depois, contra gregos e turcos; no
fim, contra africanos, asiáticos e latino-americanos, sobretudo indígenas andinos. Ou seja: os que aceitam os serviços para os quais ingleses, alemães, franceses, norte-americanos e espanhóis viram a cara e
torcem o nariz -literalmente.
O mundo acaba de aplaudir a vitória e a posse de um negro de sobrenome Hussein na maior potência do planeta. Que esse mundo não
volte aos seus piores momentos,
descarregando a crise -e os monstros- exatamente sobre suas vítimas mais desamparadas.
elianec@uol.com.br
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