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CARLOS HEITOR CONY
Um de cada vez
RIO DE JANEIRO - Filme antigo
de Bob Hope, dos anos 50. Ele é um
barbeiro que se faz passar por embaixador da França na Espanha.
Mete-se em encrencas e é desafiado
para um duelo por um nobre da corte de Madri. Espera em seu salão, e
o mordomo anuncia a chegada do
rival: "El señor don Juan de las Cruzes y Toros y Toros de la Concepción Imaculata Aguirre y Pablo Astúrias Torres y Torres de Aragón e
Castella!"
O falso embaixador se espanta:
"São tantos assim?". Mas não foge
do dever de enfrentá-los em nome
de sua honra e da honra da França:
"Que venha um de cada vez!".
Pulo de Bob Hope para Barack
Obama. Não se trata de um barbeiro impostor, mas o destino preparou-lhe alguns desafios que praticamente se transformaram em duelos. É evidente que ele sabia dos
muitos problemas que o esperavam
na Presidência de um país complicado interna e externamente.
Dois desses desafios foram estudados por sua equipe, bem ou mal
estavam abertos antes de sua posse:
as guerras em processo e a crise que
tem seu núcleo nos Estados Unidos,
referência obrigatória da economia
mundial.
Além disso, em seus primeiros
dias na Casa Branca, ele criou por
conta própria um problema suplementar com a escolha de alguns
membros para o primeiro escalão
de seu governo -o que o obrigou a
pedir desculpas à nação.
Como o barbeiro na corte espanhola, ele deve se admirar dos problemas, que são tantos, alguns inesperados, como a nomeação de seus
auxiliares mais próximos.
Não sei se será o caso de repetir a
bravura do falso embaixador, mandando que os desafios venham um
de cada vez. Obama é moço, cheio
de entusiasmo e de vontade de
acertar. Não se trata de um impostor no poder. Mas já enfrenta um
duelo que decidirá o seu destino e a
sorte do mundo.
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