São Paulo, segunda, 8 de fevereiro de 1999

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O cenário que ninguém quer

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Com o risco de entrar na lista dos fracassômanos, aí vai um cenário pelo qual ninguém torce, mas que é dado como certo pelos partidos de oposição.
1) Câmbio: março pode chegar com o dólar ainda em órbita, no patamar de R$ 1,80. Ou mais.
2) Juros: ato contínuo ao dólar valorizado, os juros não poderão cair, como tanto promete o governo.
3) Inflação: a carestia, como diz FHC, deve bater em poderosos 3% ao mês já em fevereiro.
4) Apoio no Congresso: os partidos aliados de FHC estão em guerra civil para ver quem abocanha o restinho do Orçamento. Sobrarão deputados e faltarão verbas. A diáspora é inevitável.
5) Desemprego: como já é uma praxe nacional, a realidade é sempre mais notada depois do Carnaval. Desta vez, será um desemprego recorde.
6) Popularidade de FHC: sem condições de oferecer mel no curto prazo, o presidente verá seus índices de aprovação despencarem ainda mais. O Datafolha de ontem já captou 36% de avaliação ruim ou péssima.
Quem conhece FHC prevê uma depressão que Prozac nenhum resolve. As coisas ficarão piores quando o presidente sentir que não pode andar na rua sem o risco de ver um tomate arremessado em sua direção.
7) Falência dos Estados: os governadores de oposição se preparam para uma típica conflagração.
Se FHC e o Senado aprovarem alguma rolagem de dívida, essa atitude será tachada de imoral. O governo federal estaria desmoralizado.
Por outro lado, sem dinheiro novo, os Estados vão à falência. Seria o caos. E isso pode começar não por um Estado, mas pela cidade de São Paulo, que tem US$ 3,5 bilhões em dívidas impagáveis vencendo até julho.
8) Manifestações: por enquanto é só desejo, mas o PT e os outros partidos de oposição farão de tudo para organizar um dia nacional de protesto. Milhares nas ruas. Uma catarse.
A data mais desejada, por Itamar Franco e companhia, não poderia ser outra: 21 de abril.



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