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Crise sem golpe
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Os governadores de
oposição podem até achar que não é
hora. Mas, com o agravamento da inflação e a teimosia do governo federal
em não mudar a arrogante certeza de
que é o rei da cocada preta, a mobilização popular, mais cedo ou mais tarde, estará nas ruas de todo o país.
Também não adianta os colunistas
governistas explicarem pela enésima
vez que FHC é um gênio e os adversários dele são ignorantes e malvados.
Semana passada, creio que no dia 3,
relatório do grupo G-7, citado por Clóvis Rossi, divulgava conversas que levam à especulação de que "Cardoso
pode não terminar o seu segundo
mandato". Não seria um impeachment, mas um caso de renúncia, diante da gravidade da situação que ele
provocou.
Não se trata de credibilidade, deusa
à qual FHC sacrificou o mais caro dos
incensos, pago aliás por todos nós.
Trata-se da própria governabilidade.
O logotipo dessa ingovernabilidade
foi fartamente exibido na reunião em
que dois funcionários do FMI dividiram a mesa do ministro da Fazenda
na hora do anúncio de novas normas
para a nossa economia.
Nem no Japão, logo após a guerra,
havia mesas assim formadas pelo vencido monitorado pelo vencedor. Certo
que o Japão mandou suas autoridades
a bordo do "Missouri" para assinar a
rendição incondicional diante de
McArthur. Foi o vexame indispensável
ao final da guerra. Os ministros japoneses foram ao navio trajando fraque
e cartola. Tudo na maior dignidade, o
vencedor respeitando o vencido.
O que estamos vendo, com essa guerra econômico-financeira travada em
nosso território, custando a carne e o
sangue de milhões de brasileiros, não
tem nem sequer a dignidade a que o
derrotado -o real- tem direito.
A atual situação não deve ser resolvida por um golpe. Tivemos um exemplo de como sair de uma crise com o
episódio Collor. Por barbeiragem, ele
esticou o poder até o limite do impeachment.
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