São Paulo, sábado, 8 de março de 1997.

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Campanha idiota

CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - É isso aí. O Comitê Olímpico Internacional revelou perversa insensibilidade moral e cultural não atendendo aos apelos de dona Neuma da Mangueira e de dona Zica do Cartola.
Não será dessa vez, no ainda remoto ano de 2004, que teremos Olimpíada no Rio.
Fico pensando na grande esculhambação que foi essa campanha promovida por um embaixador ``ad hoc''. Tentou converter os convertidos, ou seja, alardear para o público interno (que somos nós mesmos) as nossas virtudes cívicas, o nosso calor humano.
Essa comissão encarregada de patrocinar a causa não entendeu sequer os sinais que vieram lá de fora. Gastou dinheiro e tempo com eventos inconsequentes e nada fez para tentar consertar os dois itens que pegaram feio: a poluição da baía de Guanabara -um crime ecológico com o qual convivemos há pelo menos 40 anos- e a sujeira com a qual nos habituamos desde que aqui chegou a corte de Dom João 6º.
Se eu puxar um cigarro num recinto fechado, mil pessoas me advertirão de que ali é proibido fumar. Mas se jogar a guimba no chão, se comer um sanduíche e jogar metade dele na rua -ninguém me censurará. Esse tipo de educação falta ao brasileiro em geral, ao carioca inclusive.
Se levassem para Lausanne vídeos mostrando um trabalho nesse sentido, poderíamos argumentar que, nos próximos oito anos, atingiríamos um estágio menos constrangedor em matéria de higiene urbana.
Preferiram embarcar na bobeira do oba-oba, realizando uma campanha idiota, convocando inclusive as citadas Neuma e Zica para convencerem os membros do Comitê Olímpico. A festa promovida em Copacabana, domingo passado, lembrou um pouco aquela doação de arroz ao Betinho, no início da campanha da solidariedade de dona Ruth.
É uma pena que não tenhamos dado sequer para a saída. Mas já é tempo de aprendermos que burrice leva à burrice.

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