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Campanha idiota
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - É isso aí. O Comitê
Olímpico Internacional revelou perversa insensibilidade moral e cultural
não atendendo aos apelos de dona
Neuma da Mangueira e de dona Zica
do Cartola.
Não será dessa vez, no ainda remoto
ano de 2004, que teremos Olimpíada
no Rio.
Fico pensando na grande esculhambação que foi essa campanha promovida por um embaixador ``ad hoc''.
Tentou converter os convertidos, ou
seja, alardear para o público interno
(que somos nós mesmos) as nossas virtudes cívicas, o nosso calor humano.
Essa comissão encarregada de patrocinar a causa não entendeu sequer os
sinais que vieram lá de fora. Gastou
dinheiro e tempo com eventos inconsequentes e nada fez para tentar consertar os dois itens que pegaram feio: a
poluição da baía de Guanabara -um
crime ecológico com o qual convivemos há pelo menos 40 anos- e a sujeira com a qual nos habituamos desde que aqui chegou a corte de Dom
João 6º.
Se eu puxar um cigarro num recinto
fechado, mil pessoas me advertirão de
que ali é proibido fumar. Mas se jogar
a guimba no chão, se comer um sanduíche e jogar metade dele na rua
-ninguém me censurará. Esse tipo de
educação falta ao brasileiro em geral,
ao carioca inclusive.
Se levassem para Lausanne vídeos
mostrando um trabalho nesse sentido,
poderíamos argumentar que, nos próximos oito anos, atingiríamos um estágio menos constrangedor em matéria de higiene urbana.
Preferiram embarcar na bobeira do
oba-oba, realizando uma campanha
idiota, convocando inclusive as citadas Neuma e Zica para convencerem
os membros do Comitê Olímpico. A
festa promovida em Copacabana, domingo passado, lembrou um pouco
aquela doação de arroz ao Betinho,
no início da campanha da solidariedade de dona Ruth.
É uma pena que não tenhamos dado
sequer para a saída. Mas já é tempo de
aprendermos que burrice leva à burrice.
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