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ESQUELETOS DO PROER
E m nome da redução dos riscos
no sistema bancário brasileiro,
o Banco Central criou em 1995 o
Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e Fortalecimento do Sistema Financeiro). Polêmico, esse instrumento ganhou legitimidade, mas
está ainda longe de ser transparente.
Os ganhos de legitimidade vieram
com as crises ocorridas no sistema
financeiro mundial em 1997 e 1998.
Viu-se então que a fragilidade dos
bancos era um dos fatores, por
exemplo na Coréia do Sul ou na Rússia, de aprofundamento das crises.
Mesmo assim, há um limite moral
para a tolerância diante das ações do
BC em favor dos bancos. Mesmo que
seja difícil identificar com precisão
esse limite, reportagem do jornal
"Valor" publicada ontem exibiu um
aspecto intolerável do Proer.
Bancos estariam deixando de aplicar em crédito habitacional um total
de R$ 15 bilhões, captados pela caderneta de poupança. Essas instituições são obrigadas a direcionar à habitação parte dos recursos obtidos, a
um custo baixo, com a poupança.
A origem da brecha, que permite
lucros maiores aos bancos liberados
da aplicação de recursos no financiamento imobiliário, é uma decisão do
próprio BC. A norma, até hoje em vigor, foi criada para durar pouco, segundo declaração do presidente do
BC à época, Gustavo Loyola.
Para sanear as instituições que
caíam sob os cuidados do Proer, o
BC permitiu que bancos mais saudáveis transferissem às instituições em
crise, com deságio, créditos que numa situação normal seriam usados
no financiamento imobiliário.
A liberação excepcional jamais foi
revista pelos tecnocratas do BC. Como está em pauta a mudança nas regras do sistema financeiro habitacional, eles talvez considerem irrelevante o desrespeito às regras antigas,
ainda que elas estejam em vigor.
Essa anomalia é intolerável. O
Proer tem "esqueletos" que precisam
vir à luz. Mais uma vez fica sob suspeita a capacidade do Banco Central
de agir com transparência e compromisso com o bem público, e não apenas com o bem-estar dos bancos.
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