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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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A UM PASSO DA GUERRA

A crer na proposta de resolução que o chanceler britânico fez circular ontem na ONU, a guerra contra o Iraque já tem data marcada: a partir de 17 de março. As atenções do mundo se voltaram mais uma vez para a comunicação de Hans Blix, o inspetor-chefe de armas no Iraque, ao Conselho de Segurança (CS). Se é lícito resumir o relatório em poucas palavras, ele disse que a cooperação do Iraque melhorou, mas ainda não é a colaboração incondicional preconizada pela resolução 1441.
Como das vezes anteriores, os países contrários à guerra vêem no relatório a prova de que as inspeções estão funcionando e precisam continuar. Já as nações que defendem o ataque valorizam o fato de o Iraque não ter cumprido integralmente a ordem da ONU para desarmar-se.
O CS continua profundamente dividido. EUA, Reino Unido e Espanha querem que o Conselho aprove a nova resolução proposta por Londres, que dá a Bagdá um prazo até o próximo dia 17 para desarmar-se ou enfrentar a guerra. França, Rússia, China e Alemanha não só se disseram contrários a essa proposta como ameaçam vetá-la, caso os EUA consigam os nove votos para sua aprovação. EUA, Reino Unido, França, Rússia e China, como membros permanentes do CS, têm poder de veto.
Apesar da intensa atividade diplomática, vai se reduzindo o papel que a ONU pode desempenhar nesta crise. Anteontem, o presidente George W. Bush foi à TV em horário nobre para reafirmar, mais uma vez, que, se for necessário, os EUA agirão sem o aval das Nações Unidas.
Se a superpotência já anunciou que fará a guerra de qualquer jeito, não serão debates de diplomatas que deterão os bombardeios americanos. A ONU e a idéia de comunidade internacional sairão enfraquecidas do episódio, mas também os EUA, ao desprezar a ordem mundial que ajudaram a criar, poderão sair perdendo no longo prazo. Sem uma ONU relativamente forte, Washington dependerá cada vez mais da própria força militar para manter sua hegemonia.
Ao que tudo indica, o mundo está a um passo da guerra e com seu principal organismo multilateral rompido.


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