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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Maior é a felicidade de quem dá

O apóstolo Paulo, ao partir para Jerusalém, recordou aos cristãos de Mileto as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: "A felicidade está mais em dar do que em receber" (Atos, 20, 35). São essas também as palavras que inspiram a mensagem do Papa João Paulo 2º para a Quaresma de 2003, iluminando assim o caminho de 40 dias em direção à Semana Santa e à Festa da Páscoa do Senhor. É preciso, com efeito, confrontar a própria vida com o ensinamento de Jesus.
A mensagem do Santo Padre é muito bela e convoca a humanidade, e especialmente os cristãos, a redescobrir o segredo da felicidade, seguindo os passos de Cristo.
Estamos todos influenciados por contínuas solicitações que nos levam ao desejo de acumular bens no próprio benefício, fechando-nos cada vez mais no individualismo, esquecidos dos demais. Essa atitude está voltada para a cultura do efêmero e do hedonismo. Pouco a pouco, a pessoa fica prisioneira do egoísmo, indiferente ao sofrimento alheio. Criou-se, assim, a concentração excessiva de recursos nas mãos de alguns, deixando a maior parte da população na miséria e na exclusão social.
O Papa João Paulo 2º faz insistente apelo para que percebamos em nosso íntimo a inclinação ao dom que está inscrita no mais profundo do nosso coração. Com efeito, a pessoa só se realiza plenamente quando se abre ao Criador e a seus semelhantes e se dá livremente aos outros. Assim, o fundamento da ordem internacional, voltada para a justiça e para a solidariedade, encontra-se no princípio de que é necessário superar o próprio egoísmo e promover o bem de todos.
É no dom gratuito, sem nada pretender, que encontramos a satisfação interior e a alegria. O exemplo que nos ilumina é o de Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, que, por amor, deu sua vida para nos salvar. Nele reside a força para superar o egoísmo e experimentar a satisfação de amar gratuitamente o próximo. A alegria do amor desinteressado se manifesta no testemunho de vida de homens e mulheres que se dedicam aos mais necessitados, sem medir sacrifícios. Permanece forte em nossa lembrança o devotamento incansável de madre Teresa, de irmã Dulce, dos que cuidam, com carinho, de deficientes e de enfermos. São heróis anônimos da caridade cristã, marcados pela generosidade e pela alegria de Deus.
Há pessoas que se devotam ao serviço dos necessitados com natural compaixão, mesmo sem uma referência explícita a Cristo. A eles lembra o Santo Padre que, fazendo bem ao próximo, estão a caminho do encontro com Jesus Cristo, que se identifica com o irmão faminto e aflito (Mt 25, 40), e gozarão da benevolência de Deus.
A Quaresma torna-se, assim, tempo de benefício espiritual, convocando-nos a todos para dar testemunho da caridade de Cristo. É tempo de conversão. O jejum nos ajuda a vencer os apegos desordenados. A partilha generosa de quem divide o pão com o irmão expressa e dinamiza a fraternidade. A intensa oração à luz da Palavra de Deus alcança-nos a graça do amor e da verdadeira alegria.
Ajude-nos a Mãe de Deus e nossa a descobrir a felicidade maior do amor gratuito que Cristo nos revela e que está na raiz da justiça, da concórdia e da paz .


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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