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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Maior é a felicidade de quem dá
O apóstolo Paulo, ao partir para
Jerusalém, recordou aos cristãos
de Mileto as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: "A felicidade está mais em dar do que em receber"
(Atos, 20, 35). São essas também as
palavras que inspiram a mensagem do
Papa João Paulo 2º para a Quaresma
de 2003, iluminando assim o caminho
de 40 dias em direção à Semana Santa
e à Festa da Páscoa do Senhor. É preciso, com efeito, confrontar a própria vida com o ensinamento de Jesus.
A mensagem do Santo Padre é muito bela e convoca a humanidade, e especialmente os cristãos, a redescobrir
o segredo da felicidade, seguindo os
passos de Cristo.
Estamos todos influenciados por
contínuas solicitações que nos levam
ao desejo de acumular bens no próprio benefício, fechando-nos cada vez
mais no individualismo, esquecidos
dos demais. Essa atitude está voltada
para a cultura do efêmero e do hedonismo. Pouco a pouco, a pessoa fica
prisioneira do egoísmo, indiferente ao
sofrimento alheio. Criou-se, assim, a
concentração excessiva de recursos
nas mãos de alguns, deixando a maior
parte da população na miséria e na exclusão social.
O Papa João Paulo 2º faz insistente
apelo para que percebamos em nosso
íntimo a inclinação ao dom que está
inscrita no mais profundo do nosso
coração. Com efeito, a pessoa só se
realiza plenamente quando se abre ao
Criador e a seus semelhantes e se dá livremente aos outros. Assim, o fundamento da ordem internacional, voltada para a justiça e para a solidariedade, encontra-se no princípio de que é
necessário superar o próprio egoísmo
e promover o bem de todos.
É no dom gratuito, sem nada pretender, que encontramos a satisfação interior e a alegria. O exemplo que nos
ilumina é o de Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, que, por amor, deu
sua vida para nos salvar. Nele reside a
força para superar o egoísmo e experimentar a satisfação de amar gratuitamente o próximo. A alegria do amor
desinteressado se manifesta no testemunho de vida de homens e mulheres
que se dedicam aos mais necessitados,
sem medir sacrifícios. Permanece forte em nossa lembrança o devotamento incansável de madre Teresa, de irmã Dulce, dos que cuidam, com carinho, de deficientes e de enfermos. São
heróis anônimos da caridade cristã,
marcados pela generosidade e pela
alegria de Deus.
Há pessoas que se devotam ao serviço dos necessitados com natural compaixão, mesmo sem uma referência
explícita a Cristo. A eles lembra o Santo Padre que, fazendo bem ao próximo, estão a caminho do encontro com
Jesus Cristo, que se identifica com o irmão faminto e aflito (Mt 25, 40), e gozarão da benevolência de Deus.
A Quaresma torna-se, assim, tempo
de benefício espiritual, convocando-nos a todos para dar testemunho da
caridade de Cristo. É tempo de conversão. O jejum nos ajuda a vencer os
apegos desordenados. A partilha generosa de quem divide o pão com o irmão expressa e dinamiza a fraternidade. A intensa oração à luz da Palavra
de Deus alcança-nos a graça do amor e
da verdadeira alegria.
Ajude-nos a Mãe de Deus e nossa a
descobrir a felicidade maior do amor
gratuito que Cristo nos revela e que está na raiz da justiça, da concórdia e da
paz .
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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