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CARLOS HEITOR CONY
Formigas e abelhas
RIO DE JANEIRO - Não tenho nada contra os cientistas como classe e como indivíduos. Mas desconfio de suas atividades, pois nunca se sabe se
estão tentando descobrir a cura definitiva do câncer ou aumentando o
poder destruidor de uma bomba.
Li agora que, na Europa, cientistas
mais ou menos desocupados descobriram que as formigas praticam o
nepotismo e, como a espécie é mais
antiga que a nossa, deduz-se que as
formigas não copiam os homens, os
homens é que copiam as formigas.
Não saberia avaliar o grau de importância dessa descoberta, mas deve
ter alguma. Toda a tecnologia nasceu
mais ou menos por acaso, até a lei da
gravidade, segundo consta, foi descoberta por causa da maçã que caiu em
cima de Newton. E Arquimedes, numa banheira, descobriu que um dia o
Titanic iria afundar.
Como disse acima, tenho comportada suspeita dos cientistas em geral.
O dr. No, da série do James Bond, o
dr. Silvana, aquele que estava sempre
rindo -e ele ria fazendo "ih,ih,ih"-
, o dr. Frankenstein, que criou um
monstro, o dr. Caligari, que era louco
e dirigia um hospício, o dr. Fausto,
que vendeu a alma ao diabo, não
aprecio nem sequer aquele dr. que no
samba do Bafo da Onça mandou todo mundo sambar.
Voltemos às formigas, que anteciparam de séculos o nepotismo de deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes da República,
protegendo seus parentes e apaniguados. Os cientistas descobriram
que a classe dominante do formigueiro protege os ovos de algumas formigas operárias, as bóias-frias que dão
duro para manter o formigueiro em
funcionamento.
Com as abelhas também deve acontecer o mesmo. Formigas e abelhas formaram uma sociedade perfeita. Deixo a sugestão, que aliás é ociosa, pois nem com nepotismo chegamos à perfeição das formigas e das abelhas.
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