São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Atentado e eleições

MAIS UMA VEZ, os espanhóis irão às urnas sob o impacto de um atentado terrorista. É bem verdade que o ataque da Al Qaeda em março de 2004, que deixou 192 mortos em Madri, não pode ser comparado com a ação de ontem do ETA, na qual um ex-vereador socialista foi assassinado a tiros.
Mas, dado o caráter volátil da política espanhola e as suscetibilidades que o tema eriça, não é impossível que o homicídio repercuta no pleito de amanhã. Quatro anos atrás, a tentativa do Partido Popular (centro-direita) de atribuir a carnificina ao ETA para obter dividendos políticos custou-lhe a reeleição. Desta vez, são os socialistas, agora no poder, que teriam mais a perder, pois são acusados pela oposição de complacência com o terror.
De fato, as pesquisas apontavam um leve favoritismo para o atual premiê, José Luis Zapatero, na disputa contra o pepista Mariano Rajoy. Sob a gestão de Zapatero, os espanhóis experimentaram quatro anos de forte crescimento econômico (média de 4% ao ano). O PIB per capita da Espanha superou o da Itália.
Zapatero também conquistou as simpatias de seus compatriotas ao determinar a retirada das tropas espanholas do Iraque. Só não é um candidato imbatível porque, nos últimos meses, a economia vem dando sinais de fadiga. O crescimento do PIB, que foi de 3,8% em 2007, dificilmente passará dos 3% neste ano.
O premiê também é criticado pelo forte aumento da imigração nos últimos anos -o que ajuda a explicar, mas não a justificar, o rude tratamento dispensado a brasileiros no país. Em 2000, os estrangeiros residentes correspondiam a 4% da população espanhola. Agora já são 12%. O desemprego em alta só faz aumentar a sensibilidade dos eleitores espanhóis ao tema.
Outro calcanhar-de-aquiles de Zapatero é sua relação com o ETA. Tentou negociar com o grupo terrorista e fracassou. Por conta desse fato em particular, o atentado de ontem pode lhe custar votos preciosos.


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