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Atentado e eleições
MAIS UMA VEZ, os espanhóis irão às urnas sob
o impacto de um atentado terrorista. É bem verdade
que o ataque da Al Qaeda em
março de 2004, que deixou 192
mortos em Madri, não pode ser
comparado com a ação de ontem
do ETA, na qual um ex-vereador
socialista foi assassinado a tiros.
Mas, dado o caráter volátil da
política espanhola e as suscetibilidades que o tema eriça, não é
impossível que o homicídio repercuta no pleito de amanhã.
Quatro anos atrás, a tentativa do
Partido Popular (centro-direita)
de atribuir a carnificina ao ETA
para obter dividendos políticos
custou-lhe a reeleição. Desta vez,
são os socialistas, agora no poder, que teriam mais a perder,
pois são acusados pela oposição
de complacência com o terror.
De fato, as pesquisas apontavam um leve favoritismo para o
atual premiê, José Luis Zapatero, na disputa contra o pepista
Mariano Rajoy. Sob a gestão de
Zapatero, os espanhóis experimentaram quatro anos de forte
crescimento econômico (média
de 4% ao ano). O PIB per capita
da Espanha superou o da Itália.
Zapatero também conquistou
as simpatias de seus compatriotas ao determinar a retirada das
tropas espanholas do Iraque. Só
não é um candidato imbatível
porque, nos últimos meses, a
economia vem dando sinais de
fadiga. O crescimento do PIB,
que foi de 3,8% em 2007, dificilmente passará dos 3% neste ano.
O premiê também é criticado
pelo forte aumento da imigração
nos últimos anos -o que ajuda a
explicar, mas não a justificar, o
rude tratamento dispensado a
brasileiros no país. Em 2000, os
estrangeiros residentes correspondiam a 4% da população espanhola. Agora já são 12%. O desemprego em alta só faz aumentar a sensibilidade dos eleitores
espanhóis ao tema.
Outro calcanhar-de-aquiles de
Zapatero é sua relação com o
ETA. Tentou negociar com o
grupo terrorista e fracassou. Por
conta desse fato em particular, o
atentado de ontem pode lhe custar votos preciosos.
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