São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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FERNANDO RODRIGUES

Mudança de fase

BRASÍLIA - Se a crise política fosse um joguinho de computador, os concorrentes estariam agora mudando de fase. Governo e oposição passaram da etapa inicial. A CPI da Compra de Votos foi enterrada faz tempo. A dos Correios terminou nesta semana.
Sobra a CPI dos Bingos, que deve vegetar até o meio do ano. É como se já não tivesse tanto combustível para manobras ousadas. Sempre é possível haver um "fator extracampo", como diria Lula numa metáfora futebolística. Até onde a vista alcança, os jogadores dessa investigação tocam a bola à espera do apito final.
O "caseirogate" é caso gravíssimo, mas depende também do imponderável: alguém abrir a boca e dizer quem mandou. Até as carpas do espelho d'água do Palácio do Planalto sabem quem foi, mas não há provas a respeito. Tanto está esfriando esse caso que o depoimento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ficou para depois da Semana Santa.
A próxima fase do jogo para oposição e governo será mais política e menos policial, embora a discussão sobre quem roubou mais não seja fácil de eliminar -dada a falta de imaginação dos marqueteiros.
O comercial maniqueísta do PFL com as pedras de dominó caindo é de uma pobreza intelectual comovente. O estrago na imagem de Lula seria muito maior com um depoimento da mãe do caseiro dizendo que seu filho é humilde, mas é honesto.
O PFL acusando os outros de corrupção lembra um folheto da Fifa sobre jogo limpo ("fair play") na Copa do Mundo de 1994. Para ilustrar a desejável cordialidade entre os jogadores, colocou uma foto de Serginho Chulapa ajudando um adversário. Simplesmente não cola. O marqueteiro que fez o livreto para a Fifa deve hoje trabalhar para o PFL.
Nesta próxima fase do jogo, vencerá quem convencer o eleitor de que fará um governo melhor do que o atual. Prometer menos corrupção é bobagem. O brasileiro, ao que parece, não é tão ingênuo assim.

@ - frodriguesbsb@uol.com.br


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