São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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CARLOS HEITOR CONY

Crimes e castigos

RIO DE JANEIRO - O garoto estava com fome, não comia há dias, passou por uma mercearia e viu um pão atrás da vitrine. Roubou o pão. Foi preso, ficou 20 anos na cadeia, saiu da prisão e tornou-se um homem respeitável, chegou a prefeito de uma cidade do interior da França. Chamava-se Jean Valjean.
Um inspetor de polícia, Javert, o persegue durante toda a vida. A tese dele era simples: quem rouba um pão é um criminoso, fatalmente roubará outras coisas. O conflito entre Jean Valjean e Javert é a trama principal de "Os miseráveis", romance de Victor Hugo, um dos monumentos literários do século 19, filmado diversas vezes, tanto na França como nos Estados Unidos.
E, por falar em filme, um marinheiro é assassinado pela polícia no cais de Odessa porque reclamou da comida servida a bordo do couraçado Potemkin. Ao filmar a revolta da tripulação, Eiseinstein mostra o corpo da vítima com um cartaz em cima: "Por um prato de sopa".
Cito dois exemplos, um da ficção, outro da história da Revolução Russa, para refletir sobre a desproporção do crime e do castigo -e estou citando outro monumento literário do século 19, o estudante que achava lícito roubar uma velha usurária porque julgava ter um futuro grandioso e precisava de dinheiro para chegar lá. Acabou matando duas velhas, foi perseguido pela própria consciência e por um policial que suspeitava dele.
Na lei mosaica que passou para o cristianismo na forma de dez mandamentos, ficaram explícitos o "não matarás" e o "não furtarás". Os diferentes códigos que regem a sociedade humana -independentemente da religião de cada uma delas- admitem exceções para o "não matarás", a legítima defesa, por exemplo. Para o furto não há exceções, mas reparações, como a de devolver o furto e aprender a lição.


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