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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Desperta Brasil!
O CAOS AÉREO que tomou
conta do Brasil na última semana é prova cabal de que
os investimentos em infra-estrutura não se improvisam.
A inércia nesse campo tem um
preço altíssimo. No caso, tive notícias de que muitos vôos que sairiam da Europa e da América do
Norte para os países da América do
Sul foram cancelados por uma razão muito simples: ninguém de
bom senso quer voar sobre o espaço aéreo brasileiro sabendo que
não pode se comunicar com os postos de controle em terra.
O mundo inteiro ficou sabendo
que a morte das 154 pessoas no desastre da Gol de 29 de setembro de
2006 foi devido, em grande parte, à
falta de comunicação nas zonas cegas do Brasil central. Gato escaldado tem medo de água fria...
Não bastasse a insegurança em
terra devido ao crônico estado de
crime e violência, vem agora a insegurança no ar. A imprensa veiculou
que, nos últimos seis meses, as
agências de viagem perderam 40%
dos passageiros que haviam programado uma vinda do Brasil a
passeio ou a negócios. A imagem do
país se deteriora.
No setor da infra-estrutura, optamos pela improvisação. Isso não
dá certo. As montadoras produzem
mais de 2 milhões de automóveis
por ano, mas não temos malha viária urbana ou transporte de massa
para acomodar essa invasão de veículos. Os operosos agricultores
produzem 60 milhões de toneladas
de soja, mas não temos estradas para transportá-los. O desperdício é
enorme. Os industriais fazem um
grande esforço para alavancar as
exportações, mas não contam com
portos adequados. Todos querem
que o Brasil cresça ao menos 5% ou
6% ao ano, mas falta energia para
passar dos 4%. Tampouco temos
mão-de-obra qualificada para enfrentar um ritmo mais acelerado
de desenvolvimento.
Infra-estrutura não se improvisa. Nesse setor, as medidas têm de
ser tomadas com muita antecedência e com base em uma boa estimativa do crescimento da demanda.
As obras são demoradas. A formação de pessoal é lenta. No caso dos
controladores de vôo, fala-se em
um mínimo de dois anos, mas os
que são do ramo dizem que, com
menos de cinco anos, ninguém pode enfrentar a complexidade de
controlar o tráfego aéreo em aeroportos de grande movimento como
os de Congonhas, Guarulhos, Santos Dumont, Tom Jobim e Brasília.
Além de estarmos a pé em matéria de equipamentos e pessoal,
mostramos o nosso despreparo para as horas de crise. Passa-se por cima de "cláusulas pétreas" com a
maior facilidade e não há equipes
de reserva para garantir um mínimo de segurança. Desse jeito vamos ficar parados nos 3% de crescimento por muito tempo. É hora de
acordar. Desperta Brasil!
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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