São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Desperta Brasil!

O CAOS AÉREO que tomou conta do Brasil na última semana é prova cabal de que os investimentos em infra-estrutura não se improvisam.
A inércia nesse campo tem um preço altíssimo. No caso, tive notícias de que muitos vôos que sairiam da Europa e da América do Norte para os países da América do Sul foram cancelados por uma razão muito simples: ninguém de bom senso quer voar sobre o espaço aéreo brasileiro sabendo que não pode se comunicar com os postos de controle em terra.
O mundo inteiro ficou sabendo que a morte das 154 pessoas no desastre da Gol de 29 de setembro de 2006 foi devido, em grande parte, à falta de comunicação nas zonas cegas do Brasil central. Gato escaldado tem medo de água fria...
Não bastasse a insegurança em terra devido ao crônico estado de crime e violência, vem agora a insegurança no ar. A imprensa veiculou que, nos últimos seis meses, as agências de viagem perderam 40% dos passageiros que haviam programado uma vinda do Brasil a passeio ou a negócios. A imagem do país se deteriora.
No setor da infra-estrutura, optamos pela improvisação. Isso não dá certo. As montadoras produzem mais de 2 milhões de automóveis por ano, mas não temos malha viária urbana ou transporte de massa para acomodar essa invasão de veículos. Os operosos agricultores produzem 60 milhões de toneladas de soja, mas não temos estradas para transportá-los. O desperdício é enorme. Os industriais fazem um grande esforço para alavancar as exportações, mas não contam com portos adequados. Todos querem que o Brasil cresça ao menos 5% ou 6% ao ano, mas falta energia para passar dos 4%. Tampouco temos mão-de-obra qualificada para enfrentar um ritmo mais acelerado de desenvolvimento.
Infra-estrutura não se improvisa. Nesse setor, as medidas têm de ser tomadas com muita antecedência e com base em uma boa estimativa do crescimento da demanda. As obras são demoradas. A formação de pessoal é lenta. No caso dos controladores de vôo, fala-se em um mínimo de dois anos, mas os que são do ramo dizem que, com menos de cinco anos, ninguém pode enfrentar a complexidade de controlar o tráfego aéreo em aeroportos de grande movimento como os de Congonhas, Guarulhos, Santos Dumont, Tom Jobim e Brasília.
Além de estarmos a pé em matéria de equipamentos e pessoal, mostramos o nosso despreparo para as horas de crise. Passa-se por cima de "cláusulas pétreas" com a maior facilidade e não há equipes de reserva para garantir um mínimo de segurança. Desse jeito vamos ficar parados nos 3% de crescimento por muito tempo. É hora de acordar. Desperta Brasil!


antonio.ermirio@antonioermirio.com.br

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
escreve aos domingos nesta coluna.


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