São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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Da retórica à ação

Mercado já prevê altas seguidas na taxa básica de juros, apesar de não haver sinal claro de descontrole inflacionário

O MERCADO financeiro captou as reiteradas mensagens emitidas pelo Banco Central nos últimos dias. A maioria dos agentes consultados no boletim "Focus" -pesquisa que acompanha as expectativas de conjuntura- espera um aumento da taxa básica de juros já na reunião da semana que vem do Copom.
De acordo com a projeção predominante, a Selic, hoje fixada em 11,25% ao ano, subiria 0,25 ponto percentual em 16 de abril. Analistas de bancos e consultorias ainda prevêem outras quatro elevações de mesma dosagem em 2008, o que levaria a taxa a fechar o ano em 12,50%.
Manifestar-se é uma arma clássica, e poderosa, dos bancos centrais. Não raro, conseguem induzir nos agentes o comportamento desejado sem ter de alterar a política econômica.
Com intervenções recentes, o BC ajudou a consolidar a percepção de que o encarecimento do crédito está próximo. Pois, antes mesmo da reunião do Copom, o crédito já encareceu: os juros no mercado futuro -base para as taxas cobradas a consumidores e empresas- subiram.
As expectativas de inflação é que não se mexeram. Tanto antes como depois da "sinalização" do BC, continuam apontando o IPCA no centro da meta de 4,5% neste ano e um pouco abaixo dele em 2009. O alvo oficial é atingido com certa folga também nas previsões de inflação acumulada para os próximos 12 meses.
Não é o caso de minimizar as incertezas do cenário doméstico, para nada dizer da turbulência global. O consumo dos brasileiros avança a um ritmo vigoroso, desafia a capacidade de oferta da indústria e ajuda a deteriorar rapidamente o saldo no comércio exterior. O governo federal lança factóides fiscais em vez de reduzir seus gastos correntes, cuja expansão, quando o consumo privado cresce 7% ao ano, não faz sentido macroeconômico.
Essa conjunção de fatores não foi capaz de retirar da rota quer a inflação apurada, quer a projetada pelos analistas. O largo colchão de dólares propiciado por cinco anos de saldos vultosos no comércio, a excelência do Brasil na produção de commodities valorizadas (minérios e alimentos) e a dependência atenuada do petróleo importado dão esteio para a alta forte e não-inflacionária do consumo.
Mas a característica mais promissora deste período de crescimento é a expansão enérgica e duradoura nos gastos das empresas com bens para ampliar a capacidade produtiva. Ocorre, também, uma retomada nos investimentos, públicos e privados, em infra-estrutura. Esse ímpeto para o desenvolvimento estará ameaçado caso o BC inicie agora um ciclo de alta na Selic.


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