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Da retórica à ação
Mercado já prevê altas seguidas na taxa básica de juros, apesar de não haver sinal claro de descontrole inflacionário
O MERCADO financeiro
captou as reiteradas
mensagens emitidas
pelo Banco Central
nos últimos dias. A maioria dos
agentes consultados no boletim
"Focus" -pesquisa que acompanha as expectativas de conjuntura- espera um aumento da taxa
básica de juros já na reunião da
semana que vem do Copom.
De acordo com a projeção predominante, a Selic, hoje fixada
em 11,25% ao ano, subiria 0,25
ponto percentual em 16 de abril.
Analistas de bancos e consultorias ainda prevêem outras quatro elevações de mesma dosagem
em 2008, o que levaria a taxa a fechar o ano em 12,50%.
Manifestar-se é uma arma
clássica, e poderosa, dos bancos
centrais. Não raro, conseguem
induzir nos agentes o comportamento desejado sem ter de alterar a política econômica.
Com intervenções recentes, o
BC ajudou a consolidar a percepção de que o encarecimento do
crédito está próximo. Pois, antes
mesmo da reunião do Copom, o
crédito já encareceu: os juros no
mercado futuro -base para as
taxas cobradas a consumidores e
empresas- subiram.
As expectativas de inflação é
que não se mexeram. Tanto antes como depois da "sinalização"
do BC, continuam apontando o
IPCA no centro da meta de 4,5%
neste ano e um pouco abaixo dele em 2009. O alvo oficial é atingido com certa folga também nas
previsões de inflação acumulada
para os próximos 12 meses.
Não é o caso de minimizar as
incertezas do cenário doméstico,
para nada dizer da turbulência
global. O consumo dos brasileiros avança a um ritmo vigoroso,
desafia a capacidade de oferta da
indústria e ajuda a deteriorar rapidamente o saldo no comércio
exterior. O governo federal lança
factóides fiscais em vez de reduzir seus gastos correntes, cuja expansão, quando o consumo privado cresce 7% ao ano, não faz
sentido macroeconômico.
Essa conjunção de fatores não
foi capaz de retirar da rota quer a
inflação apurada, quer a projetada pelos analistas. O largo colchão de dólares propiciado por
cinco anos de saldos vultosos no
comércio, a excelência do Brasil
na produção de commodities valorizadas (minérios e alimentos)
e a dependência atenuada do petróleo importado dão esteio para
a alta forte e não-inflacionária do
consumo.
Mas a característica mais promissora deste período de crescimento é a expansão enérgica e
duradoura nos gastos das empresas com bens para ampliar a capacidade produtiva. Ocorre,
também, uma retomada nos investimentos, públicos e privados, em infra-estrutura. Esse ímpeto para o desenvolvimento estará ameaçado caso o BC inicie
agora um ciclo de alta na Selic.
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