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Custo São Paulo
A PESQUISA sobre trânsito
realizada pelo Datafolha
com 1.089 paulistanos
contém, à primeira vista, uma
surpresa: 56% dos entrevistados
se declararam favoráveis a ampliar o rodízio de veículos de um
para dois dias da semana. Como
se trata de medida sabidamente
impopular, o apoio parece contra-intuitivo. Em realidade, o
que essa maioria assinala é a situação-limite a que chegou a
maior metrópole do país.
Isso fica bem evidente noutra
informação apurada pela pesquisa, a de que os paulistanos perdem em média 109 minutos por
dia presos no tráfego. São quase
duas horas produtivas que escoam pelo ralo do que se poderia
chamar de custo São Paulo. Uma
perda, de resto, que já foi estimada em no mínimo R$ 27 bilhões
anuais pelo economista Marcos
Cintra, da Fundação Getúlio
Vargas, e colunista da Folha.
Há racionalidade naquela opção por um sacrifício adicional.
Mais vale abrir mão do carro
duas vezes por semana, nos horários de pico de tráfego, do que
mofar dentro do automóvel, horas a fio, todos os dias.
A frota da cidade, no entanto,
cresce em ritmo vertiginoso,
quase mil veículos emplacados
por dia. Com isso, o ganho obtido pela retirada das ruas de mais
20% da frota tende a esvair-se
no médio prazo.
Por outro lado, três quartos
dos paulistanos (74%) rejeitam a
medida mais radical e permanente do pedágio urbano. Ao que
parece, repudiam o que se antecipa como novo tributo, cuja
destinação pode terminar desvirtuada pelo poder público, sem
contribuir para a única solução
sistêmica para o nó do trânsito:
investimento muito superior aos
das últimas décadas em transportes coletivos e de massa.
Enquanto os três níveis de governo -municipal, estadual e federal- não encararem esse desafio e cooperarem para equacioná-lo, São Paulo continuará
parando. Dar uma resposta eficaz à agrura dos paulistanos já se
apresenta como um imperativo
político, pois o custo da inação
poderá revelar-se comparável ou
superior ao de medidas drásticas. Essa discussão será por certo uma das principais na campanha eleitoral que se avizinha.
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