São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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Custo São Paulo

A PESQUISA sobre trânsito realizada pelo Datafolha com 1.089 paulistanos contém, à primeira vista, uma surpresa: 56% dos entrevistados se declararam favoráveis a ampliar o rodízio de veículos de um para dois dias da semana. Como se trata de medida sabidamente impopular, o apoio parece contra-intuitivo. Em realidade, o que essa maioria assinala é a situação-limite a que chegou a maior metrópole do país.
Isso fica bem evidente noutra informação apurada pela pesquisa, a de que os paulistanos perdem em média 109 minutos por dia presos no tráfego. São quase duas horas produtivas que escoam pelo ralo do que se poderia chamar de custo São Paulo. Uma perda, de resto, que já foi estimada em no mínimo R$ 27 bilhões anuais pelo economista Marcos Cintra, da Fundação Getúlio Vargas, e colunista da Folha.
Há racionalidade naquela opção por um sacrifício adicional. Mais vale abrir mão do carro duas vezes por semana, nos horários de pico de tráfego, do que mofar dentro do automóvel, horas a fio, todos os dias.
A frota da cidade, no entanto, cresce em ritmo vertiginoso, quase mil veículos emplacados por dia. Com isso, o ganho obtido pela retirada das ruas de mais 20% da frota tende a esvair-se no médio prazo.
Por outro lado, três quartos dos paulistanos (74%) rejeitam a medida mais radical e permanente do pedágio urbano. Ao que parece, repudiam o que se antecipa como novo tributo, cuja destinação pode terminar desvirtuada pelo poder público, sem contribuir para a única solução sistêmica para o nó do trânsito: investimento muito superior aos das últimas décadas em transportes coletivos e de massa.
Enquanto os três níveis de governo -municipal, estadual e federal- não encararem esse desafio e cooperarem para equacioná-lo, São Paulo continuará parando. Dar uma resposta eficaz à agrura dos paulistanos já se apresenta como um imperativo político, pois o custo da inação poderá revelar-se comparável ou superior ao de medidas drásticas. Essa discussão será por certo uma das principais na campanha eleitoral que se avizinha.


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