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TENDÊNCIAS/DEBATES
A natureza do escorpião
ABRAM SZAJMAN
Sesc e Senac foram criados e são mantidos pelo empresariado comercial e
de serviços para benefício
de toda a sociedade
NUNCA SE falou tanto na responsabilidade social dos empresários. Porém, ao mesmo
tempo, verifica-se inédita onda de
ataques e ameaças contra as mais
consolidadas e bem-sucedidas expressões do compromisso empresarial com esse objetivo.
O equívoco das manifestações pela
extinção, diminuição ou fragmentação drástica do chamado Sistema S
começa pelo próprio rótulo, útil como
recurso de simplificação jornalística,
mas impróprio por misturar entidades autônomas, diferentes em história, estrutura e forma de ação.
O Sesc (Serviço Social do Comércio) e o Senac (Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial), ligados ao
setor comercial e de serviços, foram
criados nos anos 40 do século passado
por empresários que se mobilizaram
para oferecer, com recursos próprios,
melhores condições de vida e oportunidades a uma classe trabalhadora urbana que crescia explosivamente.
Graças a essa iniciativa pioneira, o
Brasil conta hoje com uma estrutura
nacional de originalidade e exemplaridade reconhecidas mundialmente.
Em 2006, o conjunto dos departamentos regionais do Sesc nos Estados
e no Distrito Federal realizou cerca
de 655 milhões de atendimentos em
programas de educação, saúde, cultura, lazer e assistência. No mesmo ano,
o Senac atendeu perto de 2,1 milhões
de alunos em todo o país.
Essas entidades de direito privado
são objeto de intensa fiscalização,
tanto no que se refere à aplicação de
seus recursos quanto à excelência de
seu desempenho. Em nível estadual,
Sesc e Senac têm conselhos regionais
formados por representantes de empresários, trabalhadores e do governo
federal. Em nível federal, um Conselho Fiscal, com maioria de representantes do governo, analisa e audita as
contas, o que também é feito pela
Controladoria Geral da União e pelo
Tribunal de Contas da União.
Tão importante quanto as ações de
órgãos especializados é a fiscalização
direta pelo público. Semanalmente,
cerca de 300 mil pessoas freqüentam
as 31 unidades do Sesc-SP, desfrutando de condições de segurança, conforto, acessibilidade e higiene pautadas
por critérios internacionais. Predomina o segmento de menor renda:
87% do 1,3 milhão de matriculados no
Sesc-SP têm renda familiar inferior a
cinco salários mínimos.
As 60 unidades do Senac-SP têm
mais de 12 mil alunos nos cursos técnicos e mais de 11 mil em graduação,
pós-graduação e extensão. Outras
308 mil pessoas passam anualmente
por cursos livres, seminários, palestras e eventos de formação, aperfeiçoamento e atualização. Retratado
com regularidade pela imprensa, esse
trabalho se realiza também por meio
de portais, SescTV, CDs e DVDs do
selo Sesc e publicações das edições
Sesc e editora Senac.
Muitos projetos têm servido de
modelo a políticas públicas nas áreas
social e educacional, caso do Mesa
Brasil Sesc, iniciativa contra a fome e
o desperdício de alimentos que, em
2007, complementou 260 milhões de
refeições servidas a pessoas carentes
por instituições sociais de todo o Brasil, com alimentos doados que, de outra forma, seriam descartados.
Ou do
trabalho social com idosos, iniciado
em 1963. Ou ainda do Dia do Desafio,
iniciativa mundial de estímulo à prática esportiva, coordenada no continente americano pelo Sesc-SP.
Da mesma forma, antecipando as
demandas de um mercado que se amplia e sofistica continuamente, o Senac foi pioneiro no lançamento de
cursos técnicos e superiores em áreas
como saúde, fotografia, hotelaria, gastronomia, moda, turismo, gestão ambiental e tecnologia da informação.
Isso sem descuidar da inclusão realizada pelo movimento de redes sociais, de estímulo a novos projetos
produtivos, que compreende hoje
750 organizações ativas, ou pelo programa Educação para o Trabalho, que
desde 1997 qualificou profissionalmente mais de 35 mil jovens.
Em resumo, Sesc e Senac foram
criados e são mantidos pelo empresariado comercial e de serviços para benefício de toda a sociedade. Propor a
extinção ou a redução drástica das
contribuições que os sustentam, sem
apontar alternativa viável para sua
manutenção, é ameaçar o país com
um retrocesso e mais exclusão dos cidadãos menos favorecidos.
É desatino equivalente ao do escorpião da fábula, que determina a própria desgraça quando não resiste à
tentação da ferroada mortal na rã
que, solidariamente, o conduzia à segurança da margem.
ABRAM SZAJMAN, 68, empresário, é presidente da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São
Paulo) e dos Conselhos Regionais do Sesc (Serviço Social
do Comércio) e do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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