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ANTONIO DELFIM NETTO
Controlar sem inibir
NINGUÉM discute a necessidade de aumentar a eficiência dos órgãos reguladores
do mercado financeiro, de melhorar a qualidade da regulação e de
exigir absoluta transparência nos
balanços de todo e qualquer risco
contingente assumido.
A crise
atual mostrou que, com inovações
financeiras sem controle, que
constroem novos "produtos", o
problema da estabilidade do sistema financeiro transcende muito as
velhas exigências de capital (alavancagem) e de liquidez (casamento adequado de ativo e passivo).
Por outro lado, é difícil negar que
as inovações foram instrumentos
fundamentais na ampliação da liquidez e no financiamento da recente expansão das economias e do
comércio exterior que a acompanhou. Entre 2003-2007, o PIB
mundial real e as exportações físicas cresceram quase dois pontos de
percentagem a mais, por ano, do
que na década anterior. Essa rápida expansão (principalmente da
China, feroz exportadora e insaciável importadora), juntamente com
a desvalorização do dólar, produziu um enorme aumento dos preços do petróleo, dos metais e dos
produtos agrícolas.
Esse crescimento do PIB real,
sem inflação, proporcionou um
"bônus" para quase todos os países
emergentes que viram seu desequilíbrio externo desaparecer "milagrosamente". O Brasil é um
exemplo típico: o valor das suas exportações cresceu mais de 20% ao
ano em 2003-2008 (contra menos
de 4% na década anterior), mas ele
apenas manteve a quota-parte nas
exportações mundiais que já tinha
no período 1980-1984 (1,2%). Não
fizemos nenhum esforço exportador sério.
Pelo contrário, a política monetária usou oportunisticamente a
valorização artificial da taxa de
câmbio (pelo aumento do diferencial entre juro real interno e externo) para controlar a taxa de
inflação.
Estamos agora pagando o "ônus"
de estar no mundo em crise. O preço final poderá ser relativamente
menor do que o da maioria dos outros emergentes, porque estamos
em condições melhores das que jamais estivemos. E temos um sistema financeiro hígido. O preço dependerá, entretanto, das políticas
fiscal e social do governo, da política monetária do Banco Central e
da resposta que lhes der o setor
privado.
O ponto importante a incorporar
é que as "inovações" podem ser
instrumento para melhorar a liquidez, reduzir os riscos e diminuir os
custos de transação, que são fundamentais para o desenvolvimento
econômico.
A regulação que todos pedem deve exigir a cuidadosa avaliação dessas "inovações" quando inseridas
na rede financeira internacional.
O que não deve é inibi-las.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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