São Paulo, quarta-feira, 08 de abril de 2009

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ANTONIO DELFIM NETTO

Controlar sem inibir

NINGUÉM discute a necessidade de aumentar a eficiência dos órgãos reguladores do mercado financeiro, de melhorar a qualidade da regulação e de exigir absoluta transparência nos balanços de todo e qualquer risco contingente assumido.
A crise atual mostrou que, com inovações financeiras sem controle, que constroem novos "produtos", o problema da estabilidade do sistema financeiro transcende muito as velhas exigências de capital (alavancagem) e de liquidez (casamento adequado de ativo e passivo).
Por outro lado, é difícil negar que as inovações foram instrumentos fundamentais na ampliação da liquidez e no financiamento da recente expansão das economias e do comércio exterior que a acompanhou. Entre 2003-2007, o PIB mundial real e as exportações físicas cresceram quase dois pontos de percentagem a mais, por ano, do que na década anterior. Essa rápida expansão (principalmente da China, feroz exportadora e insaciável importadora), juntamente com a desvalorização do dólar, produziu um enorme aumento dos preços do petróleo, dos metais e dos produtos agrícolas.
Esse crescimento do PIB real, sem inflação, proporcionou um "bônus" para quase todos os países emergentes que viram seu desequilíbrio externo desaparecer "milagrosamente". O Brasil é um exemplo típico: o valor das suas exportações cresceu mais de 20% ao ano em 2003-2008 (contra menos de 4% na década anterior), mas ele apenas manteve a quota-parte nas exportações mundiais que já tinha no período 1980-1984 (1,2%). Não fizemos nenhum esforço exportador sério.
Pelo contrário, a política monetária usou oportunisticamente a valorização artificial da taxa de câmbio (pelo aumento do diferencial entre juro real interno e externo) para controlar a taxa de inflação.
Estamos agora pagando o "ônus" de estar no mundo em crise. O preço final poderá ser relativamente menor do que o da maioria dos outros emergentes, porque estamos em condições melhores das que jamais estivemos. E temos um sistema financeiro hígido. O preço dependerá, entretanto, das políticas fiscal e social do governo, da política monetária do Banco Central e da resposta que lhes der o setor privado.
O ponto importante a incorporar é que as "inovações" podem ser instrumento para melhorar a liquidez, reduzir os riscos e diminuir os custos de transação, que são fundamentais para o desenvolvimento econômico.
A regulação que todos pedem deve exigir a cuidadosa avaliação dessas "inovações" quando inseridas na rede financeira internacional. O que não deve é inibi-las.

contatodelfimnetto@uol.com.br

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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