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RUY CASTRO
Choque de ordem
RIO DE JANEIRO - Já se tornou
uma expressão nas ruas do Rio. O
sujeito chega atrasado a um compromisso e se explica: "Foi o choque
de ordem". Ou: "Parei num choque
de ordem". Todo mundo entende e
aprova. Significa um engarrafamento provocado por uma boa causa -era a prefeitura rebocando 20
carros estacionados em lugar proibido ou dando uma prensa num caminhão que descarregava cerveja
ou cocos fora de hora.
Outro uso benigno da expressão é
quando se passa por alguém que, à
luz do dia e de costas para nós, urina
descaradamente num poste ou árvore, como se estivesse no sacrossanto recesso. Grita-se "Choque de
ordem!", e o cidadão leva um susto
que o faz sacudir-se e, com sorte,
urinar-se.
Choque de ordem tornou-se sinônimo da presença da equipe do
novo prefeito Eduardo Paes nas
ruas do Rio, nesses primeiros cem
dias da sua administração. E é uma
presença palpável. Revela-se na redução da população de rua, no estouro dos depósitos de muamba,
nos túneis de novo iluminados, na
contenção dos flanelinhas e dos
ambulantes, na demolição de construções irregulares e no combate à
poluição publicitária.
Tudo isso está levando a população a tentar reeducar-se. Já não é
tão avassaladora a certeza de impunidade, em que cada um fazia da rua
o seu quintal. Hoje, o sujeito pensa
duas vezes antes de parar numa fila
dupla -nem que seja pelo medo da
multa ou do reboque. E a consciência de que é importante reprimir
por igual o grande e o pequeno delito começa a tomar corpo junto à
maioria dos cariocas.
Não votei em Eduardo Paes e
nem sempre admirei seu estilo de
campanha. Mas nunca tive dúvida
de que, se se dedicasse a executar o
programa com que pretendia eleger-se, faria uma grande administração. Pois já começou. Neste momento, no Rio, temos um prefeito.
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