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Tiros em Realengo
O país prostrou-se diante da notícia vinda do Rio de Janeiro: o jovem Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da escola municipal Tasso da Silveira, no pacato
bairro de classe média de Realengo (zona oeste do Rio), invadiu o
estabelecimento e disparou seguidas vezes contra alunos. Foram
dez meninas mortas e dois meninos. O criminoso também morreu.
Essa classe peculiar de massacre é inédita no Brasil, ao menos
na quantidade de mortes dentro
de uma escola e sem relação aparente com tráfico de drogas ou crimes passionais. Segue um padrão
sinistro, originário dos Estados
Unidos, onde se conta uma dezena de episódios similares nas duas
últimas décadas -entre os mais
célebres figuram o de Columbine,
Colorado (1999), e o de Virginia
Tech (2007).
O fenômeno não é exclusivamente americano, contudo. Alemanha, Canadá, China, Escócia e
Finlândia, entre outros, já presenciaram tragédias como essas -para falar apenas de massacres ocorridos em locais de ensino.
As notícias correm o mundo.
Em todos os países se acham jovens perturbados, que num dado
momento -sempre imprevisível,
por mais que se esmiúcem os
eventos- abrem a bala o caminho
para uma triste fama.
A busca por algum sentido no
massacre de Realengo se repetirá,
de novo sem muita chance de sucesso. Por solidariedade, sensação de impotência ou mero oportunismo, políticos e especialistas
estarão entregues ao exercício de
propor soluções atabalhoadas,
como o endurecimento das leis ou
a instalação de um regime policial
nas escolas públicas.
Mesmo que se posicionassem
policiais em cada colégio, não haveria garantia de que tais episódios seriam evitados. Escolas são
locais públicos; no Brasil, onde os
estabelecimentos da rede oficial
são notoriamente problemáticos,
seria até desejável que mais pais
de alunos e ex-alunos -a comunidade, enfim- os frequentassem.
Transformar escolas em fortalezas não impede nem a violência
urbana, cotidiana e convencional.
O que dizer, então, de explosões
irracionais como a do colégio Tasso da Silveira? A hora é de luto e
compaixão, mais que rompantes.
Ao poder público compete empreender investigação minuciosa
da matança, para iluminar o que
for possível sobre Realengo. Por
exemplo: como foram obtidas as
armas usadas pelo atirador?
Não será surpresa constatar
que, apesar de tantas campanhas
de desarmamento, a facilidade de
acesso às ferramentas da morte
continua uma das falhas mais gritantes do trabalho policial no país.
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