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CLÓVIS ROSSI
O novo PT e a pequena vingança
BRASÍLIA - O governo Luiz Inácio
Lula da Silva talvez se tenha apaixonado tarde pelo liberalismo.
Quem leu com atenção o "Depois
do Consenso de Washington", a revisão do consenso original, verificou
que, somadas todas as despesas públicas sugeridas ou insinuadas pelos
diferentes autores, não haverá superávit fiscal que resista, por mais que
os autores insistam nele.
Na semana passada, a revista "The
Economist" revisitou sua paixão centenária pela plena liberdade de movimento de capitais para concluir:
"A evidência revista neste dossiê
(caderno de 24 páginas) mostra que o
mercado global de capitais é um lugar turbulento e perigoso, especialmente para economias pobremente
desenvolvidas, que podem estar mal-equipadas para navegá-lo".
Consequência inescapável: "Para
alguns países, impor certos tipos de
controle de capitais será mais sábio
do que não fazer preparação nenhuma (para controlá-los)".
É claro que a revista defende a tese
de que, depois de uma adequada preparação, dar plena liberdade para os
capitais é mesmo o ideal.
Mas o fato de rever a idéia longamente acariciada de que "controles
de capitais são sempre errados" é um
tremendo passo. Entre parêntesis,
não deixa de ser uma vingançazinha
para o economista e colunista da Folha Paulo Nogueira Batista Júnior,
que canta essa pedra há séculos, quase solitariamente, e para a própria
Folha, que a defendeu em editorial
há alguns anos para ser quase excomungada pela teologia liberal.
Talvez a revisão de conceitos demore para pegar no Brasil. O debate público por aqui costuma ser pobre, e os
economistas liberais, com poucas exceções, funcionam apenas como papagaios, repetindo idéias que ouviram ou que leram algures.
Pena. O governo do PT talvez economizasse alguns erros e algum tempo se seu incipiente planejamento estratégico avaliasse desde logo que heterodoxias começam a deixar de sê-lo
até aos olhos dos ortodoxos.
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