São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Cupins institucionais

SÃO PAULO - "As instituições estão funcionando", diz o clichê de muitos ditos formadores de opinião.
O fato de não ter havido golpe ou ato de força menor contra a existência de algum dos Poderes, nem assalto direto a direitos fundamentais, significa apenas que a crise institucional não se resolveu em violência explícita. Mas crise há, e pode ser que o improvisado arranjo institucional brasileiro não desabe logo, mas apodreça sistematicamente, como casas e árvores velhas cheias de cupins.
Considere-se apenas o caso dos sanguessugas, os novos vilões do Orçamento. Dois sanguessugas, ex-deputados, são veteranos em escândalos. Apenas na figura desses dois se conectam mensalão, dinheiro sujo em campanhas, exploração da fé pública, superfaturamento, compra de votos parlamentares. Quando se observam os colegas mais próximos desses políticos, vê-se também narcotráfico, lavagem de dinheiro, fraude fiscal e compra de juízes.
O espaço é pequeno para explicar ponto a ponto as conexões, mas tais bandos políticos e seus comparsas atuam em rede. Foram objeto de várias CPIs, pois sua empresa criminosa é diversificada: Narcotráfico, Banestado, Pistolagem, Correios, Mensalão. Há vários cabeças ou membros de quadrilhas no Congresso. Contando os cúmplices (que absolvem seus colegas), são metade do Parlamento.
O Parlamento, esse, está viciado na sua missão fundamental, que é a de de votar e vigiar o Orçamento. Os eleitos para a esbórnia no Congresso acobertam empresas e quadrilhas externas que fraudam tanto a eleição parlamentar como a execução orçamentária. Contam com a omissão ou a inépcia da Justiça. O Judiciário honesto é desvirtuado por procedimentos de processo abertos à ação da chicana descarada e bem paga.
Há fraude nos compromissos de campanha. No decreto de medidas provisórias. No loteamento de cargos. Oposição e governo fazem conluios para absolver seus corruptos.
Isso não é crise institucional?


@ - vinit@uol.com.br

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