São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Quem explica?

SÃO PAULO - Bem que eu gostaria de poder responder à pergunta de David Stang, o irmão da irmã Dorothy, assassinada há três anos no Pará: "Como podemos, em um ano, sair de um placar pela condenação para exatamente o contrário, ele ser libertado? Por favor, me diga", implorou David, ao tomar conhecimento da absolvição anteontem do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, depois de ter sido condenado, num primeiro julgamento, a 30 anos de prisão, faz apenas um ano. Era acusado de ser o mandante do crime.
Não há realmente uma explicação, até porque o caso nem se enquadra no padrão habitual do Brasil. Qual é o padrão habitual? É algum poderoso matar ou mandar matar alguém que se interponha no seu caminho e escapar impune. Ou porque foge, ou porque as autoridades locais têm medo de se meterem com os poderosos, ou por qualquer outro fator.
No caso do fazendeiro, seguiu-se, a rigor, todo o devido processo legal.
Ele foi preso, acusado, passou três anos na cadeia, foi julgado, condenado e, agora, absolvido.
Claro que todo o mundo vai dizer que o Brasil é o campeão da impunidade -e é mesmo. Tanto é que, "de mais de 800 assassinatos cometidos no campo no Pará nos últimos 35 anos, não há mais nenhum mandante cumprindo pena atrás das grades", pelas contas de José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da Terra.
Mas, nesse caso específico, nem dá para falar de impunidade, assentada na omissão e/ou cumplicidade das autoridades, na medida em que o acusado passou por dois tribunais do júri. Perdeu no primeiro, ganhou no segundo.
Parece óbvio que há alguma coisa errada no processo e, mais amplamente, em um país considerado seguro para o investidor externo, mas não para os que nele trabalham no campo (e não só no campo).


crossi@uol.com.br

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