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ELIANE CANTANHÊDE
Dossiê? Que dossiê?
BRASÍLIA - Se a oposição queria
enfraquecer a posição de Dilma
Rousseff ao convocá-la para depor
no Senado ontem, o tiro saiu pela
culatra. Dilma se recuperou da desastrada entrevista no Planalto em
que tentou defender o indefensável
-o dossiê contra FHC- e conseguiu um bom palanque, apesar de
não ter explicado o dossiê, que continua pairando sobre sua cabeça.
Quem disparou primeiro contra
ela e errou feio foi o senador José
Agripino Maia, do DEM, que tentou
ser esperto ao dizer que a ministra
"mentiu muito" na ditadura militar. Deu, de graça, a chance para ela
fazer um discurso emocionado e
emocionante, lembrando que foi
presa aos 19 anos, torturada e passou três anos na cadeia.
Disse que tinha orgulho de ter
mentido, porque mentir significou
suportar a tortura para salvar a vida
de companheiros. De quebra, foi ferina, apesar de elegante, ao fazer o
confronto entre ela, que combatia a
ditadura, e Agripino, ex-Arena e ex-PDS, que a defendia. "Estávamos
em campo opostos." Havia algum
espaço para tréplica?
Esse início de jogo decidiu a partida. Dilma ganhou segurança, cresceu. E pôde falar à vontade sobre os
sucessos do governo: o "investment
grade", os índices de crescimento
econômico, o aumento do nível de
produção da indústria, a queda do
desemprego, e foi por aí afora, claro
que passando pela redução da desigualdade social. Na prática, um comício pela TV.
Ao falar do PAC, voltou a ser a
técnica que cita megawatts, quilômetros, números, rios, barreiras.
Ninguém estava de fato prestando
atenção, e ela, se não ganhou nada,
também não perdeu nessa parte.
Quem perdeu, na capacidade de
ataque e no discurso, foi a oposição.
Vai demorar até que PSDB e DEM
voltem a ter tanto empenho em
chamar Dilma ao Congresso e dar a
ela um palanque de candidata.
Quanto ao dossiê? Ela não confirmou, não desmentiu, não esclareceu. Ficou por isso mesmo.
elianec@uol.com.br
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