São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Dossiê? Que dossiê?

BRASÍLIA - Se a oposição queria enfraquecer a posição de Dilma Rousseff ao convocá-la para depor no Senado ontem, o tiro saiu pela culatra. Dilma se recuperou da desastrada entrevista no Planalto em que tentou defender o indefensável -o dossiê contra FHC- e conseguiu um bom palanque, apesar de não ter explicado o dossiê, que continua pairando sobre sua cabeça.
Quem disparou primeiro contra ela e errou feio foi o senador José Agripino Maia, do DEM, que tentou ser esperto ao dizer que a ministra "mentiu muito" na ditadura militar. Deu, de graça, a chance para ela fazer um discurso emocionado e emocionante, lembrando que foi presa aos 19 anos, torturada e passou três anos na cadeia.
Disse que tinha orgulho de ter mentido, porque mentir significou suportar a tortura para salvar a vida de companheiros. De quebra, foi ferina, apesar de elegante, ao fazer o confronto entre ela, que combatia a ditadura, e Agripino, ex-Arena e ex-PDS, que a defendia. "Estávamos em campo opostos." Havia algum espaço para tréplica?
Esse início de jogo decidiu a partida. Dilma ganhou segurança, cresceu. E pôde falar à vontade sobre os sucessos do governo: o "investment grade", os índices de crescimento econômico, o aumento do nível de produção da indústria, a queda do desemprego, e foi por aí afora, claro que passando pela redução da desigualdade social. Na prática, um comício pela TV.
Ao falar do PAC, voltou a ser a técnica que cita megawatts, quilômetros, números, rios, barreiras. Ninguém estava de fato prestando atenção, e ela, se não ganhou nada, também não perdeu nessa parte. Quem perdeu, na capacidade de ataque e no discurso, foi a oposição.
Vai demorar até que PSDB e DEM voltem a ter tanto empenho em chamar Dilma ao Congresso e dar a ela um palanque de candidata. Quanto ao dossiê? Ela não confirmou, não desmentiu, não esclareceu. Ficou por isso mesmo.


elianec@uol.com.br

Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Quem explica?
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Rivalidades
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.