|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
KENNETH MAXWELL
Picaretagem
QUANDO OS brasileiros se
envolvem com o tráfico de
influência nos Estados Unidos, quase sempre o fazem na hora
errada, no lugar errado e com as
pessoas erradas.
Considerem como exemplo a semana passada. Com disputas cada
vez mais feias nas primárias democratas da Carolina do Norte e Indiana, envolvendo, de acordo com
a narrativa dominante na imprensa dos Estados Unidos, uma velha e
feroz gata de beco de Nova York
(também conhecida como senadora Hillary Clinton) e uma frágil gazela de Illinois (também conhecido
como senador Barack Obama), o
ex-presidente Bill Clinton tirou
um dia de folga da campanha para
visitar Nova York e embolsar por
volta de US$ 200 mil por um discurso feito para brasileiros, diz
uma reportagem.
O casal Clinton, como sabemos
agora, depois que eles se viram relutantemente forçados a revelar
suas declarações de renda, faturou
mais de US$ 100 milhões com discursos como esse e contratos para
livros desde que deixou a Casa
Branca.
Ironicamente, Bill Clinton foi
encorajado a não se pronunciar demais em público pelos dirigentes
da campanha de sua mulher. Nos
últimos meses, o ex-presidente desafinou repetidamente e -o que é
perigoso para as perspectivas eleitorais da senadora- exibiu freqüentemente em público o seu perene mau humor. Seu rompante
depois da primária da Carolina do
Sul, em janeiro, alienou completamente os eleitores negros, que viram como racistas os comentários
desdenhosos que ele fez sobre a vitória de Obama naquele Estado.
Mas, em seguida, Hillary Clinton, que desfrutou uma juventude
protegida e próspera em um subúrbio de Chicago, estudou em uma
universidade feminina de elite perto de Boston e se formou em direito em Yale, conseguiu se reinventar como uma combativa "heroína
da classe trabalhadora". Ela o fez a
fim de atrair os votos dos homens
brancos de classe trabalhadora em
velhos Estados industriais como
Indiana, Ohio e Pensilvânia, nos
quais esse grupo de eleitores enfrenta a realidade de dezenas de
milhares de empregos bem remunerados perdidos para concorrentes internacionais e de uma escalada nos preços dos alimentos e do
combustível que suas famílias
consomem.
Assim, enquanto Hillary atacava
tratados comerciais em Indiana,
Bill viajou para Nova York e faturou uma boa grana para dizer aos
brasileiros que ele defende o livre
comércio. O discurso e o gordo cachê foram cortesia do perene especialista brasileiro em autopromoção Mario Garnero.
Quando chegou a terça-feira, a
senadora Clinton já havia encontrado algo de bom a dizer sobre o
etanol brasileiro. Na quarta, ela
emprestou US$ 6,4 milhões à sua
campanha eleitoral.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Rivalidades Próximo Texto: Frases
Índice
|