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CARLOS HEITOR CONY
Rivalidades
RIO DE JANEIRO - Não é somente no amor, na política e nos esportes que predominam as rivalidades.
Nos setores profissionais, entre
médicos, arquitetos, artistas, advogados, especialistas disso ou daquilo, a concorrência muitas vezes é na
base do vale-tudo. E os escritores
não fazem exceção à regra. Pelo
contrário, há rivalidades históricas.
Em crônica recente, lembrei a
bofetada que Theodor Dreiser tacou na cara de Sinclair Lewis, quando este ganhou o Prêmio Nobel.
No terreiro nacional, tivemos diversos galos de briga que se engalfinhavam pelos jornais e, até mesmo,
fisicamente, em plena rua do Ouvidor, que era a passarela obrigatória
da vida social da cidade.
Um dessas rivalidades separava
dois cronistas famosos: Humberto
de Campos e João do Rio. A popularidade de Humberto era monumental. Ao tempo dele, era o escritor mais lido e admirado. Quando
morreu, o comércio do Rio fechou
suas portas na hora do seu enterro.
João do Rio hoje tem mais público (Humberto não tem nenhum),
mas, em seu tempo, era discriminado por ser homossexual e ignorante. Isso mesmo: ignorante.
Há um artigo dele falando de Tobias Barreto sem muito conhecimento de causa. Ignorando que havia uma cidade no interior do Nordeste chamada Escada, onde Tobias
estudara, João do Rio pintou com
cores dramáticas a situação do filósofo, dizendo que sua pobreza o
obrigara a ler os grandes clássicos
sentado numa escada, pois nem cadeira havia em sua casa.
Em seu "Diário Secreto", publicado 15 anos após sua morte, Humberto de Campos registra a gafe de
João do Rio e faz dele um dos alvos
mais constantes de suas gozações.
Não perdoa sequer suas preferências sexuais. Em tempo: os dois pertenceram à Academia Brasileira de
Letras.
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