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CLÓVIS ROSSI
A lista e a civilização
SÃO PAULO - São pobres e completamente divorciados dos fatos os
argumentos até aqui usados para
vetar o voto em lista fechada, o aspecto talvez mais chamativo da reforma política ora no noticiário.
O principal argumento é o de que
com o voto em lista o eleitor perde o
direito de escolher o seu candidato
em benefício da cúpula dos partidos. Já é assim. Quem na prática escolhe quem é candidato é a direção
de cada partido.
Com o voto em lista, muda uma
única coisa: passa a haver uma ordem de candidatos. Os mais votados entram. Ou seja, vetar o voto
em lista significa simplesmente discutir o periférico (a ordem na lista)
em vez do essencial (quem determina quem é candidato).
Fato 2 - Todos os protagonistas
dos escândalos recentes, remotos
ou dos que fatalmente ainda surgirão são filhos do voto nominal. Todos. Pode piorar com o voto em lista? Pode. No Brasil, até o péssimo
pode ser piorado, sempre. Mas,
convenhamos, será preciso um esforço fenomenal.
Fato 3 - Em boa parte do mundo
civilizado, prevalece o voto em lista
fechada. Em alguns casos (Alemanha, por exemplo), o sistema é misto: alguns se elegem pela lista do
partido, outros, nominalmente
(mas sempre indicados por um
partido).
Vetar o voto em lista é aceitar implicitamente que o Brasil não é civilizado nem jamais o será. Até concordo, mas me recuso a endossar
uma jabuticaba podre (o sistema
atual, já testado e reprovado) só para vetar um modelo novo.
Mas quem ensinou verdadeiramente o caminho das pedras de
qualquer reforma foi o deputado
Sérgio Moraes (PTB-RS), aquele
que "se lixa" para a opinião pública.
"Vocês [a mídia] batem, mas a gente
se reelege", afirmou.
Pois é, enquanto o eleitorado não
sofrer um choque de civilização e de
informação, não haverá sistema
eleitoral que funcione.
crossi@uol.com.br
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