São Paulo, sexta-feira, 08 de maio de 2009

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ELIANE CANTANHÊDE

Vivendo perigosamente

BRASÍLIA - O chanceler da Coreia do Norte, Pak Ui-Chun, vem aí. Fica de domingo a terça, o suficiente para que os críticos da política externa brasileira continuem se esbaldando depois do fiasco da visita que não houve do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
A Coreia do Norte acaba de soltar um foguete e romper pactos de não proliferação nuclear. O Irã quer "varrer Israel do mapa", também tem programa nuclear e desenvolve um míssil. São do "eixo do mal".
Bush saiu, Obama entrou, mas essa expressão (ou ameaça) ficou. O princípio que norteia a aproximação de Brasília com dois países tão belicistas, isolacionistas e sob sanção da ONU é o de "ocupação de espaço". Em dois extremos: como ir à Lua ou chegar cedo à feira.
O mesmo princípio foi usado quando Lula foi à temida Líbia já em 2003, primeiro ano do primeiro mandato. Foi um deus-nos-acuda. O país mal saía do isolamento, depois de receber severas sanções do Conselho de Segurança da ONU por atentados terroristas de Estado, comandados ou avalizados por Muammar Gaddafi, ditador desde 1969 e, pelo visto, para sempre.
A justificativa do Planalto foi a cobiça: apesar de tudo, a Líbia tinha petróleo e dinheiro saindo pelo ladrão e não tinha onde gastar, nem interna nem externamente. O Brasil prontificava-se docemente a gastar essa bolada em infraestrutura, irrigação, desenvolvimento agrícola e o que mais coubesse. As condições do Irã e da Coreia do Norte hoje não são as mesmas da Líbia naquele momento. Enquanto Gaddafi já estava em franco processo de distensão com EUA, Reino Unido, França e Japão, o Irã e a Coreia do Norte acabam de lançar (literalmente) mais provocações contra o mundo ocidental. Mas a ideia itamarato-palaciana da aproximação é bastante semelhante. Um discurso político, um objetivo econômico e o enorme esforço de sempre para estar passo a passo com as grandes potências.

elianec@uol.com.br


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