|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Vivendo perigosamente
BRASÍLIA - O chanceler da Coreia
do Norte, Pak Ui-Chun, vem aí. Fica
de domingo a terça, o suficiente para que os críticos da política externa
brasileira continuem se esbaldando
depois do fiasco da visita que não
houve do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
A Coreia do Norte acaba de soltar
um foguete e romper pactos de não
proliferação nuclear. O Irã quer
"varrer Israel do mapa", também
tem programa nuclear e desenvolve
um míssil. São do "eixo do mal".
Bush saiu, Obama entrou, mas essa
expressão (ou ameaça) ficou.
O princípio que norteia a aproximação de Brasília com dois países
tão belicistas, isolacionistas e sob
sanção da ONU é o de "ocupação de
espaço". Em dois extremos: como ir
à Lua ou chegar cedo à feira.
O mesmo princípio foi usado
quando Lula foi à temida Líbia já
em 2003, primeiro ano do primeiro
mandato. Foi um deus-nos-acuda.
O país mal saía do isolamento, depois de receber severas sanções do
Conselho de Segurança da ONU por
atentados terroristas de Estado, comandados ou avalizados por
Muammar Gaddafi, ditador desde
1969 e, pelo visto, para sempre.
A justificativa do Planalto foi a
cobiça: apesar de tudo, a Líbia tinha
petróleo e dinheiro saindo pelo ladrão e não tinha onde gastar, nem
interna nem externamente. O Brasil prontificava-se docemente a gastar essa bolada em infraestrutura,
irrigação, desenvolvimento agrícola e o que mais coubesse.
As condições do Irã e da Coreia
do Norte hoje não são as mesmas da
Líbia naquele momento. Enquanto
Gaddafi já estava em franco processo de distensão com EUA, Reino
Unido, França e Japão, o Irã e a Coreia do Norte acabam de lançar (literalmente) mais provocações contra o mundo ocidental. Mas a ideia
itamarato-palaciana da aproximação é bastante semelhante. Um discurso político, um objetivo econômico e o enorme esforço de sempre
para estar passo a passo com as
grandes potências.
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: A lista e a civilização Próximo Texto: Rio de Janeiro - Fernando Gabeira: Reforma a toque de caixa Índice
|