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FERNANDO GABEIRA
Reforma a toque de caixa
RIO DE JANEIRO - Impulsionada pela crise, recomeçou a discussão sobre reforma política. Dois temas se destacam e parecem encantar a maioria. Um deles é financiamento público de campanha; outro
é o voto em lista fechada.
Tenho muitas dúvidas sobre os
dois. As eleições de 2008 custaram
um pouco mais de R$ 1,5 bilhão. Isto sem contar os R$ 190 milhões de
programa gratuito. Eleições nacionais vão rondar os R$ 2 bilhões. Será que os eleitores aceitam? Financiamento público é tido como antídoto à corrupção. Mas na Alemanha de Helmut Kohl houve escândalo mesmo com financiamento
público. Nos EUA, Obama dispensou dinheiro público e usou pequenas doações via internet.
Voto em lista fechada pode também afastar mais os eleitores. No
Brasil, querem votar nos nomes.
Pelo menos é isso o que dizem todas
as pesquisas. O domínio da lista pelas burocracias partidárias pode ser
entendido como uma recusa da escolha do indivíduo.
Portanto, para ser sintético, os
dois pontos básicos da reforma foram feitos para aproximar a população do voto. Temo que alcancem o
efeito contrário. E, caso derrotado
nos debates, restará torcer para que
os autores tenham razão a longo
prazo. Estaremos todos mortos. Daí
a importância de tentar algo melhor, para aqui e agora.
O único grande mérito da iniciativa é trazer horizonte para uma situação que parece desesperadora.
Acontece que sair de uma crise com
uma reforma repelida pelos eleitores pode nos jogar numa próxima
crise. O fim do foro especial para
crimes comuns não está entre os temas escolhidos. No entanto, pode
depurar melhor as eleições do que
listas partidárias.
A ampliação do debate, certamente, vai ampliar as chances de
acerto. Até o momento, falou a chamada sociedade organizada. Falta
muita gente nesse baile.
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