São Paulo, domingo, 08 de maio de 2011

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Mulheres e carreiras profissionais

RAQUEL NOVAIS

É preciso considerar que a plenitude profissional é apenas um dos ingredientes do universo feminino e com ele plenamente reconciliável

Embora seja tentador atribuir a pouca representatividade das mulheres nas posições de liderança à tradição machista ou às dificuldades naturais de tornar compatível a projeção profissional ao exercício da vocação feminina, não vejo utilidade em nos acomodarmos a esses pensamentos.
Tenho observado essa questão ser relacionada a diversas atividades profissionais, e tomo o exemplo da advocacia empresarial, pela proximidade com minha própria experiência. A questão é intrigante, pois o número de graduandos é bem equilibrado no gênero e, tanto nas empresas como nos escritórios de advocacia, a carreira é bem dividida entre homens e mulheres -até o estágio que precede o movimento para as posições de liderança.
Há dois anos, estiveram em visita ao Brasil representantes da comissão feminina da Ordem de Advogados de Nova York, e o tema foi discutido a partir de verificação semelhante, ou seja, há o equilíbrio de gênero até o momento anterior ao estágio final de projeção na carreira. As mulheres não excedem 17% do quadro de sócios dos escritórios de advocacia americanos (2005).
Não estamos muito distantes dessa realidade, com poucas exceções. Muitas são as causas para o instigante fato de que, apesar de igualmente capacitadas, as mulheres têm, atualmente, menos chances que os homens de alcançar os pontos culminantes da carreira.
Buscar alternativas para reter os talentos femininos, que escapam das organizações no momento em que aí deveriam se projetar, é um grande desafio; começa por dissociar esse esforço do conceito das chamadas "condutas afirmativas", que trazem conteúdo pejorativo, pois pressupõem-se dirigidas a garantir prerrogativas de gênero.
A modificação nesse quadro implica reconhecer o óbvio: existem diferenças nas circunstâncias de vida dos homens e das mulheres.
Criar condições para que esses fatores deixem de ser obstáculos profissionais e passem a elementos enriquecedores de diversidade comportamental e de pensamento é indicativo de inteligência organizacional. Esse caminho é percorrido com ações que imprimam confiança às profissionais de que os saltos na carreira podem ser compartilhados com momentos de desenvolvimento pessoal e familiar.
Programas de compartilhamento de experiências, suporte ao desenvolvimento da rede de relacionamentos e, sobretudo, a flexibilidade no volume horário de dedicação ao trabalho são alternativas que podem diminuir as distâncias entre os dois gêneros no momento profissional mais crítico.
Aconteceu em Nova York, na última semana, o almoço anual da "Legal Momentum", uma organização não governamental que desenvolve programas de apoio a mulheres profissionais.
Foi comum ao discursos das seis homenageadas, profissionais altamente bem-sucedidas, a prevalência da família em suas vidas.
O movimento pendular, que obrigou nossas mães profissionais a conjugar o verbo "renunciar", nos reposiciona: a plenitude profissional é apenas um dos ingredientes do riquíssimo universo feminino e com ele reconciliável.

RAQUEL NOVAIS, advogada, é sócia do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.


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